Mesmo em um contexto desfavorável, com redução nas
exportações e fragilidade na retomada da atividade econômica brasileira, o Rio
Grande do Sul manteve ao longo do primeiro semestre taxas de crescimento
superiores às do país. A perspectiva, de acordo com o Boletim de Conjuntura
divulgado nesta quarta-feira pelo Departamento de Economia e
Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão
(Seplag), é de que os índices se mantenham acima dos registrados no Brasil
também na segunda metade do ano.
O documento elaborado pelos técnicos do DEE analisa as
questões mais importantes da conjuntura internacional, nacional e regional
observadas até mês de setembro, com foco no Rio Grande do Sul.
A alta de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado
no primeiro semestre foi a maior dos últimos seis anos e acima da registrada no
país (0,7%), sendo impulsionada pelo desempenho positivo da agropecuária (7,2%)
e da indústria de transformação (5,5%).
A despeito da queda das exportações gaúchas (16,2% no
acumulado do ano entre janeiro e setembro) e da dificuldade de recuperação da
economia brasileira, o segmento metalmecânico se destaca com crescimento da
produção de veículos, produtos de metal e máquinas e equipamentos.
“A retomada dos investimentos no Brasil impulsionou a
produção de bens de capital, segmento em que o Rio Grande do Sul é
especializado” afirma a chefe da Divisão de Indicadores Estruturais do DEE,
Vanessa Sulzbach. Outros segmentos como derivados de petróleo, produtos do fumo
e couro e calçados também contribuíram para o crescimento do ano.
Desemprego
O mercado de trabalho, contudo, ainda não mostra sinais
consistentes de recuperação. A taxa de desemprego no Estado permanece estável
e, das novas posições registradas no segundo trimestre, aproximadamente 30% se
referem a ocupações por conta própria sem CNPJ, caracterizadas pela
informalidade e pelos rendimentos abaixo da média.
Dados mais recentes da indústria gaúcha, especialmente de
julho e agosto, sinalizam que, para os próximos meses, a perspectiva é de leve
desaceleração na atividade econômica. A redução sazonal da contribuição da
safra de grãos no Estado para o PIB gaúcho também colabora para essa
perspectiva.
“A baixa base de comparação do ano passado, quando houve
a greve dos caminhoneiros e problemas de safra, deixará de existir e não
contribuirá mais para que tenhamos taxas expressivas de crescimento nos
próximos meses do ano como ocorreu no início de 2019”, diz Vanessa.
Mesmo com a desaceleração esperada do crescimento gaúcho,
o boletim aponta que o Rio Grande do Sul deve encerrar o ano com avanço acima
da média nacional, em função dos resultados já registrados no primeiro semestre
e, em especial, porque a indústria extrativa não afeta o Estado como tem
afetado o Brasil.
“A retomada de investimentos no país impulsionou a
produção de bens de capital, segmento que o RS é especializado”, diz Vanessa
- Foto: Carolina Greiwe / Ascom Seplag (foto anexo) Cenário desfavorável
No cenário externo, a redução de 28,8% nas vendas para a
China e, especialmente, para a Argentina, terceiro no ranking das exportações
gaúchas e que sofreu queda de 45,7% no comércio entre janeiro e julho na
comparação com o mesmo período do ano anterior, chamam a atenção no Boletim.
O período foi marcado pela tensão comercial entre Estados
Unidos e o país asiático, bem como pela possibilidade de uma saída sem acordo
do Reino Unido da União Europeia e pela fragilidade dos mercados emergentes, com
destaque negativo para o país vizinho, que sofre forte recessão.
No país, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
registrado no segundo trimestre de 2019 interrompeu o ciclo de desaceleração
apresentado nos dois trimestres anteriores. No entanto, a recuperação se mostra
lenta, com retomadas modestas nos números da agropecuária e da indústria.
O Boletim ainda aponta que o processo de recuperação da
economia nacional ocorre em meio "a uma alta capacidade ociosa", com
o setor industrial operando com 74,9% da sua capacidade instalada, 4,8 pontos
abaixo da média histórica dos últimos 20 anos.
A crise fiscal brasileira, com a recorrência de déficits
primários e a elevação da dívida pública acima da capacidade de crescimento da
economia, também impacta no baixo crescimento da economia. A discussão sobre a
Reforma da Previdência é apontada como uma das medidas para atacar a questão no
médio e longo prazos, mas de impacto restrito no curto prazo.
Edições trimestrais
A produção do Boletim de Conjuntura do RS dá início a uma
análise que busca contextualizar a economia gaúcha no âmbito internacional,
nacional, além de trazer informações atualizadas do Rio Grande do Sul.
O Boletim terá periodicidade trimestral. A próxima edição
está prevista para dezembro, após a divulgação dos números do PIB.
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