Habemus Cinderela e Presidente encantado!

Marcus Vinicius Gravina

OAB-RS 4.949


Um dos contos de fadas mais conhecido do mundo, do escritor francês Charles Perrault,  ganhou versão brasileira atual. Não fala de carruagem com cavalos brancos,  mas de aeronave ou jato encomendado em governo anterior do diplomado, com leito nupcial para as suas viagens internacionais.  O cocheiro de hoje é um militar de alta patente da FAB.

A pompa não mudou. Reparem que o futuro chanceler, Ministro das Relações Exteriores em sua entrevista - como um guri que ganhou um presente de Natal antecipado – efusivamente, anunciou a honrosa missão recebida de quem aspira tomar posse em janeiro contra vontade de milhões de brasileiros. 

Irá programar para os primeiros dias do novo governo, viagens a vários países onde será recebido com tapete vermelho para apresentar a sua “primeira dama”. Provavelmente cumprirá promessa feita de uma viagem de “lua de mel”, adiada pela campanha eleitoral.  Venezuela, Argentina e China serão as visitas iniciais de turismo e de fortalecimento de relações, que no caso não foram consultadas se interessam ao Brasil.

O Itamaraty será convertido, nos próximos quatro anos, em agência de viagens, recepções ou badalações presidenciais.  Seus embaixadores como vassalos e embaixatrizes, quando forem utilizadas as instalações das embaixadas, algumas delas verdadeiros mini-palacios, se transformarão em mordomos ou guias turísticos e as embaixadoras suas esposas ou embaixatrizes terão a função de “premier femme de chambre” cargo criado na corte real de França.  Isso se a cinderela não levar consigo sua equipe de  cabeleireira, maquiadora e manicure. 

Não haverá mal nisto desde que alguns aspectos não menosprezem o esforço  atual de contenção de gastos que não são prioritários. É evidente o contrassenso da viagem  frente ao PEC/fura teto do orçamento público em discussão no Congresso. 

Tudo isto acontece quando a  sua equipe  de transição cogita a decretação de Estado de Emergência, pretexto para saquear os bens e as poupanças bancárias dos cidadãos. É um escárnio à sociedade brasileira, viagens caríssimas com um séquito de pessoas sem maior importância aos valores superiores da nossa pátria, com direito a receberem fartas diárias de viagens. A imprensa divulgará a prestação de contas ou somente as imagens da Cinderela deslumbrada e do Presidente encantado?

É apropriada a lembrança de velho adágio popular: “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza “.  Veja-se o caso do presidente africano Jean Bokassa que mandou construir uma carruagem real coberta de ouro para a sua posse e assim chamar a atenção da sua inexpressiva existência neste planeta.  

Não poderemos ignorar o fato de que qualquer presidente de outros países, pode se contatar com o nosso, olho no olho, o que dispensa presença física. Estamos em nova era na qual até os advogados fazem suas sustentações orais perante os tribunais  à distância pela Internet para plenários virtuais.  

Recordo aos leitores de revistas épicas como a Manchete e O Cruzeiro. As  matérias com imagens internas do Palácio de Versales. O sonho de muitas meninas moças era debutar em seus suntuosos salões. E, elas apareciam nas fotos dançando com seus pais para a admiração dos brasileiros tupiniquins  do outro lado do Atlântico. 

Alguns, que ainda não perceberam qual a relação com a próxima viagem presidencial,  explico: as despesas para a felicidade daqueles pais e filhas, nunca foram custeadas com verba pública e os famigerados cartões corporativos da presidência da República. 

Será que haverá alguém entre nós capaz de reagir a este tipo de coisa, se não fomos capazes de agir em defesa do patrimônio nacional de bilhões de reais desviados dos cofres públicos, comprovado pela Lava Jato? 

Afinal, que tipo de gente habita este país?  

Pelo visto, muitos são idiotas,  outros tantos  covardes e foram descobertos, recentemente, alguns melancias. Há até quem pense em instituir a melancia, como sendo a fruta símbolo da traição, assim como quero-quero  é o símbolo dos pássaros e a árvore da erva mate,  o símbolo das árvores do nosso Estado.   

Não ao silêncio. É hora de utilizar o nosso direito de opinião em público antes da tentação de pegar em armas.

Caxias do Sul, 17.11.2022


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