Artigo, Guilherme Baumhardt, Correio do Povo - A tática do cancelamento ataca novamente

Imagine uma região das mais prósperas do Brasil, com alto Índice de Desenvolvimento Humano. Cidades com excelentes serviços de saúde e educação, somados a baixos índices de criminalidade. Regiões com alta renda e boas posições no mercado de trabalho, que não dependem de apenas uma única indústria ou setor produtivo. Há turismo, gastronomia, hotéis, indústria moveleira, entre outros. E, também, a produção de uvas, sucos, vinhos e espumantes – muitos deles premiados e reconhecidos internacionalmente. Se você pensou na serra do Rio Grande do Sul, pensou certo.


Tudo o que está nas primeiras linhas da coluna não surgiu da noite para o dia. É fruto de muito trabalho, de gente que dedicou uma vida para construir a região. São gerações e mais gerações, desde os primeiros imigrantes que chegaram com uma mão na frente e outra atrás, abrindo picadas em meio à mata virgem, para iniciar ali uma nova vida. Começaram a produzir. No começo, para subsistência. Depois, graças à coragem e ao espírito empreendedor, deram início a pequenos negócios, pequenas empresas, que depois cresceram.


Agora, uma história que é secular e digna de todo reconhecimento está sendo alvo de uma das mais absurdas campanhas difamatórias já vistas. Em função de um episódio condenável, em uma primeira análise, uma construção que levou décadas para atingir o estágio atual está sendo colocada em xeque. Não me parece justo, não me parece correto. Tudo porque, segundo denúncias, uma empresa terceirizada não deu o tratamento digno para trabalhadores vindos da Bahia, contratados para a colheita da uva. Conforme o Ministério Público do Trabalho, as condições seriam “análogas à escravidão”.


O caso está sendo investigado e, antes de conclusões precipitadas, é preciso ouvir todos os lados, desde os procuradores, passando pelos trabalhadores, até chegar à empresa terceirizada e às vinícolas. A postura das empresas, diga-se de passagem, foi louvável até agora. Nenhuma delas se escondeu. Todas vieram a público prestar esclarecimentos e assumiram que, sim, têm a sua parcela de responsabilidade – reconheceram que deveriam dar mais atenção às condições nas quais se encontravam os profissionais. Todas, também, se comprometeram a adotar um cuidado maior para as próximas safras e já há uma proposta de indenizar aqueles que foram prejudicados.


E o que se viu por parte da classe política e até da imprensa? Uma campanha que tenta transformar um caso isolado em regra geral. Uma rede de supermercados do Rio de Janeiro, pasmem, anunciou que não venderá mais vinhos das três empresas – como se elas tivessem dado de ombros para o caso. Nas redes sociais, uma turma defendeu o boicote ao vinho e ao espumante produzidos aqui. Uma pateta chegou ao cúmulo de colar adesivos em garrafas em uma gôndola, dizendo que aquele vinho tinha “gosto de escravidão”. Na área rural de Bento Gonçalves e Garibaldi, o seu Giusepe, com as mãos calejadas do trabalho no parreiral, mas orgulhoso daquilo que produz, viu aquilo e não entendeu nada.


Sem condenar a Salton, por ser uma empresa familiar e não uma cooperativa, cabe aqui um adendo: no caso da Aurora e da Garibaldi estamos falando de pequenos produtores rurais, com propriedades muito pequenas, e que fazem parte de um sistema cooperativo – uma tentativa de somar forças para aumentar a competitividade de quem, sozinho, não teria condições de enfrentar o mercado. Acredite se quiser: algumas cabeças com rara inteligência sugeriram a expropriação das terras de pessoas assim, humildes, que trabalham de sol a sol.


Com as providências que foram tomadas até aqui e após o posicionamento das três empresas diante do episódio, compartilho com vocês o meu sentimento: vida longa aos bons vinhos e espumantes do Rio Grande do Sul! Que casos como o dos baianos não se repitam. E que a política de cancelamento liderada por determinados grupos políticos (de esquerda) e de parte da imprensa ganhe o lugar que merece: o ostracismo.

    


Um comentário:

  1. para cortar o mal pela raiz e nao trazer mais esse pessoal para o serviço
    se vamos por essa linha aqui em rio grande as experencias com o pessoal que veio da bahia foi terrivel , com certeza se encontraria muitas situaçoes dessa mas porque as pessoas nao tinham o menor senso de higiene e respeito deixavam as casas destruidas imagino 200 homens vivendo juntos em um mesmo lugar o que devem ter feito com o local

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