Artigo, especial, Alex Pipkin - Bilis no Poder

Alex Pipkin, PhD

Somos seres imperfeitos, atravessados por raiva, frustrações e ressentimentos. Isso é natural. O que não é natural — e muito menos aceitável — é quando esses impulsos deixam de ser contidos pelas rédeas da razão e se tornam critério último de decisões em posições de liderança. Numa sociedade saturada por estímulos — dizem que cada um de nós é impactado diariamente pelo equivalente a 175 jornais em sons, imagens, mensagens e e-mails — a pressão externa molda nosso comportamento. Mas é no modo como compatibilizamos tais estímulos com nossas necessidades que se revela o caráter. E quando predomina a baixa autoestima, a sede de reconhecimento e o desejo patológico de estima, surgem figuras que flertam com a psicopatia. Sua bilis, mais do que sua razão, passa a governar.

Robespierre é exemplo emblemático. Homem austero, de rosto rígido e olhar severo, tomou para si a missão de purificar a França revolucionária. A virtude, em seus lábios, tornou-se sinônimo de ódio aos inimigos da República. A guilhotina, mais do que instrumento de punição, foi o desfecho natural de um ressentimento travestido de justiça. O que parecia zelo pela liberdade revelou-se, na prática, fúria corrosiva. Sua bilis escorria pelas palavras, pelo tom de voz, pelas feições que denunciavam a maldade.

O paralelo com o Brasil atual é inescapável. Em nome da “luta pela democracia”, vemos instaurar-se uma purificação de caráter quase revolucionário. Agora não mais contra reis ou aristocratas, mas contra opositores escolhidos pela retórica oficial. A “democracia” passa a ser defendida ao preço de mais autoritarismo. O “Estado de Direito”, igualmente entre aspas, é invocado apenas quando serve aos interesses de quem empunha a caneta ou veste a toga. Como no tempo de Robespierre, a virtude proclamada se converte em maldade praticada, e a bilis, travestida de virtude, escorre em discursos inflamados que justificam perseguições.

A psicologia moderna explica esse fenômeno. Há traços de doença emocional que beiram a psicopatia: baixa autoestima, necessidade desmesurada de estima e reconhecimento, narcisismo autoritário, sadismo moral e ressentimento contínuo. O poder, nesses casos, serve para compensar fragilidades internas, transformando a sede de validação em perseguição implacável.

O freio natural para esses impulsos deveria ser a lei, igual para todos. Quando não o é, torna-se arma. A conduta humana também é moldada por incentivos. Sociedades só prosperam quando premia a virtude e a cooperação; quando se corrompem, premia-se a transgressão e o privilégio. É o caso do Brasil, onde o crime compensa, a impunidade protege e os privilégios se perpetuam. Nessa distorção, o mal não apenas encontra espaço; é estimulado e institucionalizado.

Todos que me seguem sabem do meu apreço pelas ideias smithianas. Adam Smith ensinou que o interesse próprio não é mal em si; pode impulsionar prosperidade, desde que regulado por leis justas e incentivos corretos. Quando o equilíbrio se perde, o interesse próprio degenera em abuso e tirania.

Hoje, não precisamos procurar muito para encontrar novos Robespierres. Eles estão engravatados, discursando sobre “democracia” e “Estado de Direito” enquanto transformam essas palavras em caricaturas. O curioso — ou trágico — é que não precisamos da Place de la Révolution, nem da guilhotina, bastam microfones, despachos e togas. O retrato da realidade é autoexplicativo. Só não vê — naturalmente — sectários ideológicos, ignorantes ou quem já se acostumou à bilis travestida de virtude.

2 comentários:

  1. Advogados!!! Os grandes bobos da corte do bolivarianismo caboclo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caminhamos para a guerra civil....sem dúvida....o judiciário perdeu sua função de mediar as coisas....e ao ter um lado desequilibra tudo...voltamos aqueles tempos da monarquia absoluta em que a cada sucessão se instalava uma guerra civil...o rei morre..o primogenito real junta seus soldados para brigar com outros pretendentes...geralmente parentes próximos...e quem vence nas armas e o novo rei...no sistema dos três poderes instalado no ocidente há menos de 400 anos .a função do terceiro poder e exatamente evitar a guerra civil.......ao nomearem advogados beligerantes e incompetentes como juízes e o Senado consentir com esse descaminho abriu se a Pandora....espalhando todos os males do mundo....como na mitologia........não se conserta isso sem sangue....vai custar caro a insensatez dos políticos...a nação vai pagar isso com sangue ...quando um juízo toma um lado. Perde sua função primordial de evitar a guerra....não precisamos mais deles..... E o próprio poder legislativo não representa mais o país...o país tem regiões super representadas e outras sub representadas..está foi a origem primordial da instalação do desequilibrio......em 1930 foi assim. Dois anos depois ..em 1932 a guerra civil....o uso do dinheiro público na compra de votos no congresso e nas eleições desequilibra o jogo destruindo o sistema representativo....Colocar isso de volta dentro da caixinha vai custar muito caro ao país....
      ...

      Excluir