A oligarquia unida jamais será vencida e ela quer assar
uma enorme pizza, mandando a conta para a patuleia
No seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, Emílio Odebrecht
soltou uma palavra que reflete a ansiedade da oligarquia nacional diante da
Lava-Jato. Discutia-se a identidade do “Italiano” das planilhas de capilés do
empreiteiro, e ele esclareceu que o apelido é muito comum, mas era possível que
se referisse também ao “nosso Palocci”. O uso do “nosso” não indica
propriedade, mas apenas familiaridade. É enorme a admiração de Odebrecht pelo
doutor Antonio, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma
Rousseff. Em poucos minutos doou-lhe nove adjetivos: entre eles, “inteligente”,
“bem informado”, “homem de visão de estadista”.
A lista da Procuradoria-Geral da República contém os beneficiários
de capilés da “nossa” Odebrecht. Empresários de todos os calibres, políticos de
todos os grandes partidos, os três ex-presidentes vivos e pelo menos dois
ministros do Supremo Tribunal Federal formaram um coro destinado a embaralhar a
discussão dos capilés. Caixa 2 seria uma coisa, propina seria outra, dinheiro
embolsado seria uma coisa, dinheiro gasto na campanha, bem outra. Jurisconsulto
de renome, o doutor Gilmar Mendes fica devendo uma tabelinha capaz de
diferenciar urubu de carcará.
A principal estridência desse coro ocorre quando se vê
que se planeja uma anistia para delinquentes que se recusam a confessar. Todos
operam no caixa dois, diz o coro, mas eu nunca operei, responde cada um dos
cantores.
A Lava-Jato foi na jugular da oligarquia política e de
boa parte da oligarquia empresarial do país. (Está na memória nacional o pato
amarelo que ficava diante da Fiesp, do “nosso” Paulo Skaf, mencionado em
colaborações da Odebrecht como receptáculo de R$ 6 milhões.) Ferida, essa
oligarquia joga com o tempo, com as peças de Brasília e com o cansaço da
choldra. Afinal, um dia a Lava-Jato haverá de ser um assunto chato, se já não
é.
A grande pizza começa a ser assada fabricando-se um tipo
de anistia parlamentar e/ou judiciária para o caixa 2. Em seguida, as propinas
virarão caixa 2, e estamos conversados. Mas isso não pode ser tudo. Se o caixa
2 é uma anomalia da contabilidade das campanhas eleitorais, deve-se criar um
novo modelo. Qual? O do financiamento público. Como dizia Renato Aragão, você
da poltrona que já paga impostos para receber (se receber) obras
superfaturadas, pagará as campanhas eleitorais dos candidatos que mordem as
empresas para botar ou tirar jabutis de medidas provisórias.
Parece maluquice, mas já desengavetaram um corolário do financiamento
público: o voto de lista. Assim, o sujeito paga pela obra superfaturada,
financia a campanha dos candidatos e ainda perde o direito de votar em quem
quer. (Pelo sistema atual, o sujeito votava em Delfim Netto e elegia Michel
Temer, mas indiscutivelmente votara em Delfim, não em Temer.) Junte-se a isso
que nenhum dos listados pela Procuradoria-Geral irá a julgamento em menos de
quatro anos.
Só a rua pode evitar que assem a pizza. Não é coisa
fácil, pois uma parte da turma do “Fora Temer” tem o pé esquerdo na “nossa”
Odebrecht e parte do coro do “Fica Temer” tem o pé direito. Sem a rua, a
oligarquia unida jamais será vencida. Ela fez esse milagre no século XIX, e o
Brasil foi o último país independente das Américas a acabar com a escravidão.
É claro que só resta ao povo de Pindorama uma ação: partir para as ruas e para cima de todos os meliantes tupiniquins.
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