Artigo, Zero Hora, Denis Rosenfield - Fim !

* Professor de filosofia

Não é uma formulação séria arguir que Lula, condenado, deveria disputar eleições.

A primeira experiência da esquerda no poder, no Brasil, está, literalmente, tendo um fim jurídico-policial. De política, no sentido mais nobre da palavra, pouco sobrou. Quando oposição, o PT apareceu como uma esperança de transformação social e de ética na política. Sua bandeira era a da limpeza moral e está sendo, agora, lavado pela Lava-Jato. De nada adianta argumentar que fizeram o que todos fazem, uma vez que o partido foi eleito para fazer diferentemente dos outros.
Não é nada trivial que um ex-presidente seja condenado pelo que fez durante a sua gestão. E o foi, com uma sentença perfeitamente argumentada e apresentada. As provas nela abundam, sendo de nenhuma serventia a demagogia de quem se diz perseguido. Seus advogados jamais se debruçaram verdadeiramente sobre o seu processo, preferindo a via política, como se essa pudesse ser a sua salvação. Talvez não tivessem outra saída, pois a evidência dos crimes os teria dissuadido de sua defesa. Em todo caso, escolheram a tergiversação e não o esclarecimento.
Eleições não são feitas para a absolvição de criminosos. Isto é tarefa da Justiça, independentemente do que os insatisfeitos pensem dela. A escolha pelas urnas dos governantes e dos representantes políticos segue todo um rito legal, tendo, entre outras condições, que os condenados em segunda instância não possam disputar eleições.
A título de hipótese, considere-se que criminosos pudessem disputar eleições. Narcotraficantes, dotados de grandes recursos, poderiam, assim, escapar da prisão. Teriam um salvo-conduto, digamos, "democrático". Logo, não é uma formulação séria arguir que Lula, condenado, deveria disputar eleições de qualquer maneira. Seria nada mais do que postular uma aliança entre o autoritarismo e a criminalidade.
O PT está na encruzilhada. Poderia ter optado por outra via. Uma escolha possível poderia ter sido o reconhecimento dos crimes cometidos, acompanhado de um pedido de perdão. Quiçá seus eleitores e simpatizantes pudessem ter-se compadecido e atribuído esses crimes à sua inexperiência no exercício do poder e aos desvios de seus dirigentes. Teria sido uma aposta na renovação a partir de uma verdadeira autocrítica.

Contudo, o partido tomou outro caminho, o da negação, da mentira e da falsidade. Está atrelando o seu destino a um líder que passará os próximos meses, assim como passou os últimos, negando o que fez. Seu futuro imediato será prestar contas à Justiça. E essa não dá sinais de arrefecer

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