As pistas da principal linha de investigação levam à
Rússia. É onde reside o americano Edward Snowden, notório aliado do jornalista
Glenn Greenwald, dono do site The Intercept Brasil. Em 2013, Snowden se
aproximou dos irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov, que criaram o Telegram,
um sistema de comunicação por mensagens similar ao Whatsapp. A PF suspeita que
Snowden possa estar por trás do esquema de bisbilhotagem e divulgação das
mensagens de membros do Ministério Público Federal. Recentemente, Snowden elogiou
o Telegram por sua resiliência na Rússia, depois que o governo proibiu o
aplicativo e pressionou para que liberasse o acesso às mensagens privadas dos
usuários. Na PF, há quem acredite que o americano refugiado na Rússia possa ter
se valido de recentes contatos com os Durov para ter acesso aos diálogos
envolvendo as autoridades brasileiras.
Condinome: “lucky12345”
A partir da investigação sobre os passos de Snowden,
informantes do Brasil na Rússia puxaram um outro fio do novelo: o que leva a
Evgeniy Mikhailovich Bogachev, de 33 anos. Criador do vírus Cryptolocker e do
ardiloso código Zeus, ele é procurado pelo FBI americano por crimes
cibernéticos. Um rastreamento identificou que Slavic ou “lucky12345”, como é
conhecido, teria recebido US$ 308 mil em bitcoins (a moeda virtual). Resta
saber se o depósito foi realmente a contrapartida financeira por ele ter
participado do processo de quebra do sigilo telefônico dos procuradores. O
dinheiro teria circulado pelo Panamá antes de chegar a Anapa, na Rússia, onde
foi transformado em rublos. Na última semana, o nome do agente russo veio à
tona pela primeira vez através de um perfil anônimo no twitter. Embora
parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e
tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada
importante pelos agentes hoje à frente do caso. Em especial, pelos indícios de
que Slavic, uma espécie de laranja no esquema, possa estar ligado a Snowden. Um
relatório de segurança da Ucrânia aponta que “lucky12345” atua sob a supervisão
de uma unidade da espionagem russa.
Mas por que os bilionários irmãos Nikolai e Pavel Durov,
do Telegram, se aliariam a Snowden e Slavic na tentativa de desqualificar a
principal operação de combate à corrupção da história recente do Brasil?
Agentes da PF colheram informações que os levam a crer que os Durov, atualmente
abrigados em Dubai, podem ter agido com motivações puramente ideológicas.
Adeptos do islã, eles teriam ficado enfurecidos com a proverbial predileção do
presidente Jair Bolsonaro por Israel em detrimento aos árabes. Em abril, depois
de recebido com honras pelo premiê Benjamin Netanyahu, o presidente anunciou a
criação de um escritório de negócios em Jerusalém “para a promoção de comércio,
investimentos e intercâmbio” bilaterais. Netanyahu saudou a abertura de um
gabinete brasileiro na cidade e pediu que aquele fosse o primeiro passo para a
abertura da embaixada brasileira em Jerusalém – o que provocou a ira dos
islâmicos e, consequentemente, dos Durov. Bolsonaro, ao alcançar o poder, foi o
principal beneficiário da Lava Jato, conduzida por Moro. Desmoralizar o juiz e
a Lava Jato significaria enfraquecer o bolsonarismo e trazer a esquerda lulista
de volta ao jogo. Confirmada a tese, Greenwald teria sido a ponta final da
operação comandada pelo trio Snowden, Slavic e Durov.
Não custa lembrar que Greenwald e Snowden foram parceiros
num trabalho desenvolvido em 2013 e que expôs dados secretos da Agência de
Segurança Nacional (NSA), do governo dos EUA. O material interceptado por
Snowden, também de forma ilegal, foi divulgado por Greenwald no jornal inglês
The Guardian e em outros jornais pelo mundo afora, como O Globo, no Brasil.
Graças aos documentos vazados, o jornalista ganhou os prêmios Pulitzer e Esso.
Pressionado a divulgar detalhes de sua operação, Snowden acabou se asilando na
Rússia, onde passou a ser protegido pelo presidente Vladimir Putin. Enquanto
que Greenwald se refugiou no Brasil, casando-se com o brasileiro David Miranda,
atual deputado federal pelo PSOL e acabou fixando residência no Rio de Janeiro,
de onde opera o The Intercept Brasil. Atualmente, Snowden é presidente da
Freedom of the Press Foundation. Um dos co-fundadores é Greenwald. Na última
semana, a PF considerou realizar uma operação de busca e apreensão dos
computadores do dono do The Intercept e conduzi-lo para prestar depoimento, mas
fontes ligadas ao ministro entenderam que esse fato poderia transformar o
jornalista em mártir e o governo ainda corria o risco de ser acusado de cercear
a liberdade de imprensa.
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