Na primeira metade dos anos 80, um juiz lotado em
Sapucaia do Sul (RS), Luiz Francisco Corrêa Barbosa, passou a se notabilizar
por determinar apreensões de bens e valores de grupos criminosos ligados ao
tráfico de entorpecentes. Dinheiro, pequenos aviões, embarcações. Tudo estava
bloqueado e sob guarda da Justiça, nos chamados depósitos judiciais.
O próprio Barbosinha, como o personagem é conhecido,
conta que, paralelamente às ações, a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul
(Ajuris) celebrou um convênio com a extinta Caixa Econômica Estadual permitindo
que a Justiça "carreasse recursos de depósitos judiciais para a Caixa
Estadual, os quais poderiam ser usados na concessão de empréstimos aos
magistrados".
— Eu era do conselho deliberativo da Ajuris e fui contra
isso. Estavam usando dinheiro das partes para benefício pessoal. Eu me rebelei,
votei contra, mas só fui acompanhado por um conselheiro — recorda Barbosinha.
Ele recorreu à Assembleia-Geral da Ajuris, quando foi
novamente derrotado. Ele disse, então, que ingressaria com ação popular contra
o convênio entre Ajuris e Caixa Estadual.
— De fato, entrei com a ação. E fui expulso da
associação. Queriam acesso aos depósitos judiciais que estavam sob meu controle,
mas eu tirei tudo da Caixa Estadual e mandei para o Banco do Brasil — diz.
Barbosinha rememora que, depois disso, o Órgão Especial
do Tribunal de Justiça determinou o seu afastamento das funções.
— Um corregedor foi lá me notificar. Eu disse que não aceitaria.
Fizeram uma sessão secreta e determinaram a minha prisão por crime de exercício
funcional ilegalmente prolongado. Isso porque eu me recusava a cumprir o
afastamento — relata.
A partir disso, forças policiais foram mobilizadas para
encarcerar o então juiz Barbosinha em Sapucaia do Sul.
— Mandaram a polícia me prender no gabinete. E eu prendi
a polícia. Dei voz de prisão e ficamos trancados dentro do gabinete. Quem foi
lá era o chefe de Polícia da época, o Antônio Diniz Alves de Oliveira. Tinha
batalhão de choque, cavalaria, toda a imprensa e o raio que o parta. Foi um
fiasco — recorda.
Tudo isso se arrastou desde o início de uma tarde de
trabalho até as 5h do dia seguinte. Barbosinha, alegando estar preocupado com
"uma tragédia", encaminhou um acordo: pediu que a população que
acompanhava o rebu no local dissipasse e que o batalhão de choque fosse
retirado.
— Às cinco da manhã, eu me declarei preso. Fui para o
regimento Bento Gonçalves, na Avenida Aparício Borges, e fiquei lá por um dia e
meio preso. Aí o tribunal revogou a prisão — conta.
No final, Barbosinha foi colocado em
"indisponibilidade remunerada". Recebia o salário de juiz, mas não
podia atuar. Se dedicou à política, virou prefeito de Sapucaia do Sul pelo PTB
nos anos 90, e depois direcionou o fico à advocacia.
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