Artigo, Luis Milman - Apenas Josué Guimarães era espião da KGB ?

Zero Hora publicou, no último dia 12 de julho, um pretendido contraponto à matéria do jornalista Vitor Vieira, divulgada no site Videversus, sobre a atuação de espião da KGB do falecido escritor gaúcho Josué Guimarães, em Portugal, em meados dos anos 70. Zero Hora movimentou-se para tentar descaracterizar a notícia de Vieira, que se antecipou à toda a imprensa brasileira, reproduzindo uma longa matéria publicada em 12 de março deste ano pelo jornal Expresso de Lisboa, na qual eram reveladas as informações que o analista e arquivista russo da KGB Vasili Mitrokhin recolheu ao longo de 40 anos e transferiu para o serviço secreto britânico nas décadas de 80 e 90. São milhares de documentos, hoje desclassificados, que estão à disposição para consulta no arquivo do Churchill College da Universidade de Cambridge. O diário Expresso buscou informações sobre a rede de agentes da KGB em Portugal, que envolvia dirigentes dos partidos Comunista e Socialista portugueses, além de diplomatas e jornalistas. Entre eles constava o nome de Josué Guimarães, que nos anos 70, vivia auto-exilado em Lisboa e trabalhava para o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Guimarães era chamado pelo codinome "Gosha" e, segundo os arquivos de Mitrokhin, manteve 38 encontros com os soviéticos em Lisboa. Já depois de sua volta ao Brasil, Mitrokhin registra outros dois encontros de Josué Guimarães no Rio de Janeiro e mais dois em Buenos Aires.

A tentativa de Zero Hora foi um tiro no pé, porque não desmentiu uma palavra do que Vitor Viera publicou. E mais: ainda corroborou, por depoimentos de entrevistados, que o falecido escritor de fato mantinha contato com soviéticos, depois de seu retorno ao Brasil. A matéria atendeu claramente a uma pauta encomendada pelos amigos de Guimarães à direção da RBS, pois não foi apenas no jornal, mas também na rádio Gaúcha, que a empresa dos Sirotski fez circular seu desastrado desmentido à matéria de Vitor Vieira. Os amigos de Guimarães formam uma espécie de casta da esquerda do Rio Grande do Sul. Quando era vivo, Guimarães reunia-se com esta turma aos finais de semana, na casa do falecido escultor Xico Stockinger, para desfrutar de paejas. Ele foi padrinho de casamento da filha de Xico, Jussara, que mobilizou os confrades paejeros junto à direção da RBS para torpedear, através do jornal e também da rádio Gaúcha, a matéria de Vitor Vieira. Os depoimentos de amigos de Guimarães registrados pela matéria de Zero Hora são de Flávio Tavares e Luis Fernando Veríssimo, dois medalhões da esquerda guasca, além do filho do escritor. Na rádio, os escalados foram David Coimbra e Kelly Matos, do programa matutino “Time line”. Os dois são conhecidos paus-mandados de direção da empresa. Coimbra também é ligado a Ivan Pinheiro Machado, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro e, depois, de sua dissidência, o Partido Operário Comunista. Pinheiro Machado é proprietário da Editora LPM, que edita os livros de Josué Guimarães e as coletâneas de crônicas de Coimbra publicadas em Zero Hora e os convenia com o Ministério da Educação, que os adquire e os empurra goela abaixo da rede pública, com o patrocínio de nossos impostos. Tudo muito rentável e decente.


Em Zero Hora, Tavares tentou justificar os contatos do escritor gaúcho com os soviéticos rotulando-os como normais, pois ele era jornalista e tinha muitos conhecidos. Mas chegou a confirmar que sabia de um encontro, ao menos, de Josué Guimarães com um diplomata soviético com quem estabelecera relações em Lisboa, em Buenos Aires. É possível, disse Tavares, que alguém de uma embaixada russa tenha registrado conversas com Guimarães para “mostrar serviço”, dando origem à confusão. Já Veríssimo preferiu desdenhar da matéria de Vieira, alegando que Josué Guimarães era conhecido por suas opiniões políticas e, se fosse espião, ele o seria de uma forma muito incompetente. De qualquer modo, nenhum deles atacou o assunto diretamente. Por qual razão, afinal, um escritor e jornalista brasileiro estaria no rol de espiões portugueses da KGB, elaborado por ninguém menos do que o principal analista e arquivista soviético, que detalha, inclusive, o número de reuniões que Guimarães manteve com o chefe da espionagem de Moscou em Lisboa? Na verdade, os amigos esquerdistas de Josué Guimarães estão assustados, porque mais esqueletos podem sair deste armário. As informações sobre espiões brasileiros e latino-americanos da KGB, que constam dos arquivos de Mitrokhin, não foram reveladas pelo jornal lisboeta Expresso, que se deteve apenas na rede da KGB em Portugal. É mais sabido que andar para frente que a intelectualidade de esquerda brasileira, ao longo de décadas, mantinha relações carnais com os serviços de inteligência soviéticos e com seus satélites no Leste Europeu e em Cuba. Muita coisa, portanto, está para ser descoberta sobre os nomes de brasileiros que eram serviçais dos soviéticos.

2 comentários:

  1. De minha parte, obrigado Polibio por esse oportuno esclarecimento e o alerta de que temos espiões ainda "escondidos" e hoje com medo de serem descobertos. Criticavam o FBI mas participavam da KGB. Que tipos de brasileiros, hem?

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  2. A quatro anos atrás, o falecido escritor Janer Cristaldo já tratava sobre a paixão que Guimarães e outro ícone "intelequitual", Jorge Amado, demonstravam pela democracia soviética.
    http://mujahdincucaracha.blogspot.com/2012/07/viagem-moscou-e-pequim-de-uma.html

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