Artigo, Luís Milman - A hegemonia cultural esquerdista

A consequência de décadas desta hegemonia esquerdista é aquilo que chamo de espiral da mediocridade.
O ambiente universitário brasileiro, a exemplo do jornalístico, é um terreno no qual sempre proliferou a mentalidade esquerdista. O Partido dos Trabalhadores, desde os anos 80, é o preferido de professores e alunos, que ostentam sua militância abertamente e com orgulho. Na medida em que o PT foi se tornando um partido de governo, partidos de esquerda mais à margem do poder, como o PC do B, o PSTU e o PSOL, passaram a dividir com os petistas a liderança do movimento estudantil, enquanto os sindicatos docentes, especialmente das universidades públicas, continuaram a ser dominados por petistas. O PT substituiu o antigo PCB, o Partidão – do qual, em muitos aspectos, é um esbirro- na preferência da intelligentsia universitária. Assim, não é novidade que sempre tenha havido, por parte deste setor, uma adesão confessional aos padrões de pensamento e organização marxistas.
Para todos os efeitos, estar vinculado ao PT ou, em segundo plano, aos demais partidos da esquerda, aberta ou informalmente, significa, ainda hoje, possuir uma carta de recomendação ideológica, sem a qual é muito difícil abrir as portas para a participação em grupos que dominam a política e movem a burocracia universitária. Disto decorre implantar uma agenda da qual fazem parte a conhecida ideologia de gênero e a propaganda do gaysismo, o aquecimeto global, a defesa do desarmamento da população e a manuntenção da idade de 18 anos para que alguém possa ser responsabilizado penalmente por qualquer tipo de crime. A credencial esquerdista é responsável pela ocupação de cargos diretivos na Universidade e pela consequente ascensão na carreira docente, sem falar na participação assídua em congressos nacionais e internacionais e, principalmente, nas agências estatais de fomento à pesquisa, que controlam a distribuição de bolsas de estudo para alunos e verbas polpudas para professores . Para aqueles que não se ajustam ao perfil ideológico dominante, que são independentes ou não-alinhados ao ideário hegemônico, resta resignarem-se com um autêntico exercício de sobrevivência profissional, em um contexto que, não raras vezes, torna-se, até mesmo, hostil.
A contraface deste esquerdismo que sequestrou a Universidade brasileira é a inexistência de setores articulados mais identificados com referências teóricas de direita. Entenda-se por direita, aqui, não o espantalho reacionário que os petistas, ou a esquerda brasileira como um todo, fabricou para justificar sua doutrinação. A direita que importa é aquela dos conservadores e liberais, que defende os valores da democracia republicana, da economia de mercado, da tradição e costumes judaico-cristãos e da liberdade individual. Esta está praticamente extinta na Universidade, muito por culpa de sua própria falta de combatividade e de sua aceitação pacífica do expurgo ideológico a que foi submetida pela esquerda.
Externamente, apenas para fins de propaganda, os esquerdistas que dominam os campi sustentam que são democratas e que há, na universidade, um fluxo de pensamento livre. Não há. Este fluxo é condicionado pela aceitação, por parte da maioria esmagadora de professores e estudantes, de modo tácito ou explícito, da mentalidade revolucionária marxista ou paramarxista e de sua superioridade moral. Um professor, na área de Humanidades, por exemplo, tem muita dificuldade operacional para expor as ideias políticas de Hume, Burke ou Toqueville, ou a crítica ao socialismo de Mises e Hayeck, num ambiente no qual Marx , Gramsci, Adorno e Dvorkin são praticamente vistos como sublimes.
São imperceptíveis, na Universidade brasileira, os registros do debate e da abertura intelectual. Em seu lugar, há um compadrio doutrinário e a consequência de décadas desta hegemonia esquerdista é aquilo que chamo de espiral da mediocridade. Nas salas de aula e nos encontros de pesquisadores repetem-se à exaustão as fórmulas surradas de pensadores marxistas. Há muito espaço, também, para anarcomarxistas, como Foucault, ou para pós-modernistas como Derrida, além de uma penca de autores de expressão menor que seguem estas linhas. Tudo produzido de maneira repetitiva para consumo da clientela acadêmica. Não há diferença entre formação e doutrinação . A reflexão dá lugar ao automatismo e os modos de expressão, na mesma medida em que a capacidade crítica é substituída por uma adesão do sujeito a uma dogmática já existente, limitam-se a propagar e a produzir cópias caricatas dos modelos que habitam o Olimpo das ideias revolucionárias e desconstrutivistas.
É a este quadro, em linhas gerais, que está reduzida a intelectualidade na Universidade brasileira. É de se reconhecer, no entanto, que está surgindo, devido à degradação política do PT, uma demanda por mais inteligência na sociedade. Esta demanda reflete-se no meio acadêmico, onde a situação confortável da esquerda passou a sofrer alguma contestação, mesmo que ainda incipiente. Uma das defesas do esquerdismo, digamos, corporativo da Universidade, é fazer com que suas práticas e hábitos permaneçam opacas para essa mesma sociedade que a sustenta. A vida intelectual e a burocracia universitárias ainda constituem uma caixa-preta para o cidadão comum. É preciso urgentemente devassá-la.

Luis Milman é professor de filosofia e jornalista.

4 comentários:

  1. Ideologia é o instrumento ideal para se manipular consciências. Ela ensina o indivíduo como pensar, como agir e como sentir, sem que o adepto , nem de longe, perceba que se tornou um completo imbecil.

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  2. Senhores: Não seria a hora de as empresas privadas se unirem e exigirem profissionais não oriundos destas universidades? Se o desaguadouro for fechado pois é o mais agredido pelos sindicatos e afins, começam a escassear vagas.... Sobraria só a empresa publica que se acredita começará a não contratar mais ninguém pois está quebrada....

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  3. Dr Polibio Braga traçou não apenas o perfil da esquerda intelectual brasileira, mas um retrato tridimensional colorido dessa gente que aparelhou a universidade pública brasileira. Já não temo por essa gente, mas sim pelo futuro do ensino público superior do Brasil.

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  4. O artigo é genericamente bom, mas com tropeços locais que lhe empanam o brilho e credibilidade. Eu o teria divulgado nas listas se não fossem pérolas como: “... e pela consequente ascensão na carreira docente, sem falar na participação assídua em congressos nacionais e internacionais e, principalmente, nas agências estatais de fomento à pesquisa, que controlam a distribuição de bolsas de estudo para alunos e verbas polpudas para professores.”
    Eu participei de muitos eventos nacionais e internacionais e a única regra a que me submeti foi: ter um artigo aprovado em um evento de reconhecida qualidade, ou ter sido nominalmente convidado para um workshop de reconhecida reputação. Nunca me faltaram, para isso, financiamentos do CNPq, FINEP, ou CAPES. Também desenvolvi projetos de pesquisas e de desenvolvimento, financiados por agências de fomento, tais como FBB, FINEP, CNPq, ... O único quesito a que sempre me submeti foi o escrutínio de pares escolhidos ad hoc pelas agências à minha revelia, pares em geral de alta qualidade acadêmica. Minha posição política ou ideológica jamais foi quesito para tais escrutínios.
    Ah, sim, jamais vi alguém ser promovido na carreira (não confundir com funções eletivas, essas, sim, dominadas pelas esquerdas jurássicas) por ideologia. Ao contrário, já vi gente de esquerda ser tolhida na promoção, não por ser de esquerda ou direita, mas por não ter estofo acadêmico para tanto.

    José J. Espíndola

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