Empresas dizem que negócio ficou inviável depois de
acordo com caminhoneiros O acordo fechado pelo governo com os caminhoneiros
para acabar com a greve no mês passado gerou uma distorção no mercado de óleo
diesel.
Responsáveis pelo fornecimento de 27% do combustível
comercializado no Brasil, os importadores ameaçam abandonar o mercado sob
alegação de que o negócio deixou de ser lucrativo.
A conta deve cair no colo da Petrobrás, que ficará com o
ônus de garantir o abastecimento à população. Sem muita margem para produzir
mais em suas refinarias, caberá à petroleira recorrer ao produto de outros
países, o que, segundo especialistas, pode ser um retrocesso a um período em
que a estatal perdia dinheiro com a venda de combustíveis.
Para garantir o desconto para os consumidores, o governo
instituiu um preço de referência a ser perseguido pela Petrobrás e importadores
desde a última sexta-feira. Se essas empresas venderem a um valor menor do que
esse preço de referência recebem um subsídio do Tesouro, no limite de R$ 0,30
por litro.
Segundo as importadoras, essa nova política, válida até o
fim do ano, significa perda de margem de lucro de 3% a 5%, dependendo do porto
aonde o combustível chega. Dizem também que, dessa forma, não vale a pena levar
o negócio adiante por não conseguirem cobrir seus custos. Cálculo do Centro
Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) confirma projeção de perda. A Petrobrás não
se posicionou.
"Os preços de referência (estabelecidos pela ANP)
são menores que o da paridade internacional, o que inviabiliza a importação e
gera risco de desabastecimento no País", diz o presidente da Associação
Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo. Ele também
acredita que, para evitar o desabastecimento de diesel, a Petrobrás será
convocada a preencher a lacuna deixada pelas comercializadoras e a ampliar sua
importação, o que deve afetar o caixa da petroleira.
Estoque. Desde sexta-feira, as importadoras trabalham
exclusivamente com o que têm em estoque e apenas por esse volume receberão o
subsídio do governo.
A avaliação do consultor Adriano Pires, diretor do CBIE,
é que essas empresas são mais afetadas pela nova política de preço porque seus
custos são maiores e porque elas têm menos fôlego que a estatal para aguardar o
prazo de 30 dias para receber o subsídio do governo.
Entre os especialistas consultados pelo
Estadão/Broadcast, é consenso que a solução do abastecimento com uma possível
saída de cena das importadoras passará pela estatal. "No fim, quem vai
importar é a Petrobrás, o que vai contra a estratégia econômica da empresa. Se
fizer isso, será por imposição do acionista principal, a União, e não por
interesse próprio", avalia o professor da USP, Edmilson Moutinho.
Desde julho de 2017, a Petrobrás reajusta os preços dos
combustíveisseguindo as variações do petróleo no mercado internacional e do
câmbio. Assim, aos poucos, refez o caixa para compensar perdas do passado,
quando os valores permaneceram congelados.
Para David Zylbersztajn, exdiretor geral da ANP,
"tem muito choro" na fala da Abicom e o mais importante seria
"abrir as contas" para saber se o negócio deixou realmente de ser
atrativo. Ele diz ainda "que a Petrobrás tem condição de suprir o mercado
interno" e evitar um desabastecimento.
Fonte da estatal que não quis se identificar afirmou que,
para ampliar a importação de diesel, a companhia deve ser provocada pelas
empresas distribuidoras, que repassam o produto para os postos revendedores.
Até agora, no entanto, isso não aconteceu, diz a fonte.
Entre a compra do combustível e a entrega num porto
brasileiro são necessários cerca de 40 dias. Isso significa que se a Petrobrás
quiser compensar a fatia de mercado deixada pelas importadoras deve começar a
se movimentar nos próximos dias.
27% Do óleo diesel comercializado no Brasil vem do
mercado externo.
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