Artigo, Vitor Bertini - O dia em que mateu meu pai

Minha dor não começa no dia em que matei meu pai.
Uns dias depois do dia em que matei meu pai caminhei até a delegacia e contei tudo. Contei que ele falava alto, gritava muito, nunca acreditava em mim e que isso talvez fosse tudo.
Disseram que minha história não interessava, interessava se eu tinha matado meu pai ou não.
Repeti que sim, eu havia matado meu pai.
Perguntaram por que eu tinha feito isso, matar meu pai.
Devolvi que minha história não interessava.
Então perguntaram quando, onde e como eu havia matado meu pai. Respondi que foi uns dias atrás, na casa em que ele tinha me criado.
Depois, falando baixo, contei que tinha atirado duas vezes no peito dele com um revólver calibre 38 especial, 655 gramas, 5 tiros, punho de borracha, cano curto e acabamento cromado.
O delegado começou a gritar comigo, dizendo que esse revólver não existia e que eu não matara o bosta do meu pai.
Eu gastei as últimas três balas no peito do delegado. Ali começou a minha dor.
VB

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