Pouco depois de anunciar sua maior descoberta desde o
pré-sal, em 2006, a Petrobrás já negocia com investidores privados a venda de
participação na exploração dos seis campos de gás natural encontrados em
Sergipe. Juntos, os campos de Barra, Cumbe, Farfan, Poço Verde, Muriú e Moita
Bonita, a 80 km da costa de Aracaju, têm capacidade para produzir cerca de 20
milhões de m³ de gás natural por dia, o equivalente a um terço da produção
nacional.
De acordo com estimativa da consultoria Gas Energy, a
receita anual do negócio para a Petrobrás e seus sócios será de R$ 7 bilhões.
Tanto a descoberta como os planos da empresa para a exploração do combustível
na região são bastante alvissareiros. Para o Brasil, e para Sergipe e a Região
Nordeste em particular, a grande produção de gás natural nos seis campos
encontrados contribuirá muito para baratear o custo de energia e aquecer a
atividade econômica. O mero anúncio da descoberta foi suficiente para provocar
entusiasmo. “Virei um caixeiro viajante, batendo de porta em porta de
indústrias, oferecendo as vantagens do gás natural a quem quiser se instalar em
Sergipe”, disse José Augusto de Carvalho, secretário de Desenvolvimento
Econômico do Estado.
O governo federal aposta que sairá de Sergipe “o gás mais
barato do Brasil”, o que poderá concretizar uma promessa feita pelo ministro da
Economia, Paulo Guedes, de aplicar um “choque de energia barata”, um ambicioso
plano para reduzir em até 50% o custo do gás natural e, assim,
“reindustrializar” o País. É compreensível a exultação com a recente descoberta
e não há dúvida quanto ao peso que o custo da energia tem sobre as indústrias. Mas,
dada a atual capacidade ociosa do setor, resta saber o que é a tal
“reindustrialização” defendida pelo ministro Paulo Guedes.
A Petrobrás acerta ao manter-se fiel a seu planejamento
estratégico, com foco na exploração do pré-sal na Região Sudeste, e negociar a
venda de participação nos negócios em Sergipe. O alto investimento na
exploração do gás natural poderia pôr em risco a saúde financeira da empresa,
recuperada a duras penas após os arroubos irresponsáveis, não raro criminosos,
que marcaram a gestão da Petrobrás durante os governos do PT.
Além disso, dada a alta complexidade geológica para a
exploração do gás natural nos campos de Sergipe, somente empresas experientes,
de grande porte, poderão se associar à Petrobrás. “A venda parcial desses
ativos será muito boa para atrair parceiros com capacidade financeira e
tecnológica e apetite para o gás. Vai acelerar os projetos”, avaliou o
secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Márcio Felix.
Os campos de gás natural em Sergipe estão em uma área
contida no plano de desinvestimento da Petrobrás, plano que foi comunicado ao
mercado em maio do ano passado, por meio de “fato relevante”. Não se sabia,
àquela época, a dimensão do potencial dos campos, o que só foi revelado há
pouco, na divulgação do resultado financeiro do primeiro trimestre de 2019.
O anúncio gerou grande interesse em empresas do setor,
“uma garantia de que o investimento vai sair. Quanto mais plural, menor o risco
de os investimentos serem paralisados”, avaliou o presidente da Gas Energy,
Rivaldo Moreira Neto. A participação de empresas privadas levará a uma saudável
competição que só tem a beneficiar os consumidores de gás natural,
principalmente as indústrias.
Outro ponto positivo que merece destaque é a possível
retomada do setor de óleo e gás no País. A forte queda do preço desses insumos
no mercado internacional combinada com a revelação do assalto à Petrobrás
engendrado pelo PT, seus partidos aliados e grandes empreiteiras serviram para
paralisar o setor. E isso pode ser só o começo. Felipe Kury, diretor da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), vê o potencial da
bacia de Sergipe como “muito promissor”. Ou seja, mais campos podem ser
descobertos.
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