Leonel Brizola antecipou-se (em muito) às táticas e à
terminologia dos marqueteiros políticos. Dizia –e praticava– que no debate
eleitoral era necessário apontar “1 diabo” –1 tema ou personagem inimigo a quem
se prometeria combate e que, nessa luta virtual, garantiria o que hoje se chama
“o controle da narrativa“.
Faz parte da política, desde sempre e em todos os
lugares. Collor com os marajás, o primeiro Lula com as elites, Bolsonaro contra
o petismo, Trump contra quase todos. Enfim, cada 1 constrói seu diabo e
torna-se sócio dele. Quanto melhor a escolha, maiores as vitórias.
O único problema é que estas narrativas geralmente
colocam os debates na direção oposta ao que realmente interessa. E acabam,
muitas vezes, prejudicando a análise e a solução do que prometem.
Caso emblemático é a decisão em curso no Supremo Tribunal
Federal. Armou-se, de forma esquemática, a narrativa “garantias x impunidade“.
Assim, quem cobra solução eficaz para a punição de delitos torna-se inimigo do
direito à presunção de inocência, ao contraditório e a mais alguns conceitos
estrategicamente escolhidos para que ninguém se atreva a dizer que se opõe a
eles. A contradita vem dos “combatentes da corrupção” que, amparados pelo
sentimento popular contra o colarinho branco nos devolvem uma versão curitibana
do velho “os fins justificam os meios“.
Assim divididos, nossos ilustres ministros do STF
passarão os próximos dias pretendendo nos convencer que OU combatemos a
corrupção OU garantimos o devido processo legal (a prévia disto veio na 4ª
feira com
o https://www.poder360.com.br/justica/video-toffoli-cobra-respeito-de-barroso-e-ministro-rebate-deselegante/).
Deselegante e desrespeitoso, para tomar de empréstimo
adjetivos usados no debate entre os 3 ministros, talvez seja tentar nos
condenar a este falso binário. E retirar do solene plenário do Supremo uma
antiga, verdadeira, indispensável e vergonhosa questão –a lentidão do processo
judicial no Brasil e, por consequência, a escancarada vantagem dos réus famosos
ou ricos que, patrocinados por advogados competentes, transformam questões
processuais no cerne de cada julgamento, adiando-os até que se convertam em
prescrição e impunidade.
Tivesse o Poder Judiciário enfrentado com eficiência a
tarefa de reformar-se e teríamos uma celeridade que, impedindo a impunidade,
permitiria o combate ao crime sem qualquer ofensa a julgamentos justos e
legais. É a inaceitável demora enfrentada por todos os tipos de vítimas,
principalmente se pobres, que empurra a opinião pública e setores do próprio
Judiciário a apoiarem
procedimentos que no mínimo ficam nos limites do
formalmente aceitável na anacrônica legislação atual.
Imagine-se que nossos onze ministros, elite e liderança
do Judiciário, priorizassem nesta discussão uma imediata e profunda revisão da
sistemática brasileira de recursos, fonte primeira da demora e da impunidade. O
dia que isto for feito (apesar da oposiçäo em grande parte corporativista de
advogados) sairemos da “narrativa binária” em que estamos atolados.
A escolha, enfim, não pode ser entre Lula e Lava Jato,
não punir nunca ou punir qualquer forma. A maturidade democrática para qual o
Brasil caminha precisa e merece uma opção mais rica – reformar o Judiciário.
Até que isto aconteça, veremos a repetição do que o
Supremo nos oferece hoje. Os chamados garantistas ameaçados de passarem a
história como defensores da impunidade. E combatentes da corrupção tratados
como carbonários.
A decisão do Supremo, semana que vem, não terá
vencedores. E vai agravar a “fulanização” do debate. Ao evitarem a questão real
–por que se demora tanto a fazer Justiça– o Supremo Tribunal Federal corre o
sério risco de ser vítima do próprio binário que construiu. Decisões “a favor
ou contra Lula”, “a favor da impunidade ou contra o devido processo legal” não
vão fortalecer o Supremo, contribuir para as instituições e muito menos
resolver o problema real. Com elas, apenas ganharão os fabricantes de narrativas
e os construtores de “diabos”.
É que o brasil virou um convescote infernal,e os diabos estão tudo de um lado só.Mesmo ver como binarismo é um vicio.Eles construiram isso,tijolo a tijolo.E dizer que eu ou qualquer um não deve encarar binariamente é querer me excluir e a outrem,porquê é o que resta.Enquanto não for resolvido esse binarismo,o resto ficará suspenso!
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