A lógica da ofensiva contra os sindicatos e por que ela
enfrenta pouca resistência
Na entradinha do Carnaval o governo editou medida
provisória proibindo na prática descontar em folha qualquer taxa para
sindicato. O mecanismo vinha sendo aprovado em assembleias após a reforma
trabalhista acabar com o imposto sindical. Era uma forma de contornar a
asfixia.
Margareth Thatcher e Ronald Reagan atuaram contra os
sindicatos, com sucesso. Fernando Henrique Cardoso abriu seu governo quebrando
a espinha dos petroleiros. Faz parte dos ciclos político-econômicos orientados
a dar mais oxigênio ao capital, para relançar a economia.
Não é novidade que o atual período político se inspira no
de 1964. Mas aquele regime nunca precisou - ou vai saber nem quis - eliminar o
sindicalismo. Manteve, buscando extirpar os elementos para ele malignos. A
repressão foi brutal. Mas não teve como meta eliminar os sindicatos.
Seria porém errado centrar a análise no desejo do
governo. Todo poder faz o possível para enfraquecer e no limite eliminar
qualquer resistência. Bolsonaro, como Temer, não ataca a estrutura porque quer,
mas porque precisa, pela agenda. E principalmente porque pode.
E resmungar contra a ofensiva antissindical é inócuo.
Para o resmungo ter efeito, o bolsonarismo precisaria sofrer algum dano de
imagem por tentar liquidar os sindicatos. É o contrário: o eleitorado do presidente
quer mesmo que ele quebre a coluna vertebral do trabalhismo.
Pois é uma necessidade objetiva para a estratégia de
relançamento econômico. O crescimento brasileiro desde os anos 80 é baixo, e um
fator central é o muito lento avanço da produtividade. O Brasil não é
competitivo globalmente nesse aspecto, com exceção da agricultura.
A recuperação das margens pós-crise continua dependendo
da contração dos custos. Especialmente do trabalho. Se não dá para produzir
muito mais por hora, que ela custe menos. Nisso ajuda a alta taxa de
desemprego. Por isso ela é em boa medida estrutural.
Onde está o problema? Na baixa participação das
exportações na economia. O Brasil não é a China, aqui as coisas dependem mais
do mercado interno (lá também isso está aumentando). Uma hipótese para nem a
economia nem o emprego terem mudado de dinâmica após a reforma trabalhista.
Mas a persistência da estagnação não vem tendo maior
efeito político, ainda que seja provável uma reação político-sindical futura. E
o retardo na reação explica-se também pela fraqueza orgânica dos movimentos
trabalhistas. Ela tem três razões, e a mais importante fica algo escondida.
Há a mudança organizacional do mundo do trabalho, aspecto
muito na moda nos debates. E há o relativo desenraizamento das cúpulas
sindicais, após trinta anos em que ir aos gabinetes do poder e ao Ministério
Público trazia mais resultado que ir aos locais de trabalho.
O aspecto menos debatido: a pulverização da organização
sindical, nascida da reação ao avanço do sindicalismo petista-cultista a partir
dos anos 80, finalmente cobra o custo. As razões históricas da “indústria de
sindicatos” são conhecidas. E num governo firmemente disposto a matar o
sindicalismo, a dispersão pinta ser fatal.
O “fatal” não deve ser lido como “definitiva”, pois as
ondas sempre provocam contraondas. Mas que o sindicalismo está numa sinuca,
isso está.
A custa do recolhimento aos sindicatos, de ¨contribuições¨, surgiram MARAJÁS, E ¨LIDERES¨POLITICOS
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