Artigo, Fábio Paiva - Como será o “novo normal”?

No início de 2020, o novo coronavírus mostrou sua ira, provocando o que talvez 

seja a maior catástrofe sanitária global da história. Não havia vacinas disponíveis, sequer 

medicamentos específicos para enfrentá-lo, como solução para o caos e a morte, 

superdimensionados por grande parcela da mídia, que levou o medo e o terror às 

pessoas. Todos sonhavam com a chegada de um tratamento e com a cura e, 

consequentemente, com a volta à normalidade. Naquela época, escrevi o artigo “O 

amanhã, como será?”. Uma primeira tentativa de entender o que estava acontecendo e 

de projetar o que poderia vir a ser o “novo normal”. 

É verdade que a chegada da pandemia da Covid-19 “contaminou” todos os países 

de forma inédita e forçou as pessoas a se isolarem em suas casas e a encararem novos 

hábitos e formas de convivência social e profissional. Milhares de empresas, lojas e 

restaurantes fecharam as portas e milhões de trabalhadores sofreram com o 

desemprego e a fome. No Brasil, a grande mídia elevou a doença a um apocalipse, 

transformando seus noticiários em informes funerários, indigestos de assistir. 

Infelizmente, em nosso país, a doença foi politizada. No Senado, uma CPI foi criada e 

questionada pelas atitudes de seus integrantes. Paralelamente, alguns governadores e 

prefeitos passaram a ser investigados por desvios e fraudes cometidas com os recursos 

federais, liberados para salvar vidas e impedir a falência de empresas e a fome das 

famílias.

O momento atual é tenso. Mas, como será o amanhã? O que será de nós após a 

pandemia? O que será da economia? Será que as pessoas vão se lançar às ruas como 

faziam antes do surgimento do novo coronavírus?

A resposta para esta última pergunta é sim, as pessoas já estão de volta às ruas. 

Em muitos estados e no Distrito Federal, por exemplo, o uso de máscaras já não é mais 

obrigatório em lugares públicos abertos. Com o avanço da imunização completa dos 

brasileiros, só vai usar máscara quem quiser, mesmo em lugares fechados. Mas, para 

muitas pessoas, o acessório será indispensável, a exemplo do que vemos, há décadas, 

nos países asiáticos.

E a economia? 

Muitas empresas e órgãos públicos perceberam que o home office é um fator de 

considerável economia, principalmente na hora do pagamento do aluguel e das contas 

de água, luz e internet. Para o patrão, é muito melhor manter seus funcionários em 

casa e suas contas no azul, alugando um espaço menor, reduzindo custos. Essa nova 

tendência, inclusive, deve gerar um problema no mercado imobiliário e grandes espaços 

tendem a ficar fechados se os valores da locação não forem revistos e reduzidos 

consideravelmente. 

O e-commerce chegou para ficar. Deixou, definitivamente, de ser uma mera 

alternativa de compras. Muitas lojas físicas estão modernizando suas atividades e 

passando a conciliar suas vendas físicas com as online. É possível que shopping centers, 

por exemplo, comecem a registrar debandada de lojistas, com o encolhimento do 

comércio tradicional. Muitas empresas e lojas vão precisar de um bom trabalho de 

comunicação e de marketing, principalmente nas redes sociais, para sobreviver. 

Restaurantes, lanchonetes e cafeterias são uma boa surpresa. No artigo que 

escrevi em janeiro de 2020, eu acreditava na redução radical do público nessas casas. 

Acreditava no fim dos restaurantes self-services e que os clientes passariam a fazer o 

consumo em casa, com o fortalecimento do delivery. Eu estava enganado, em parte. O 

delivery ganhou força, inegavelmente, mas os self-services continuam funcionando. A 

diferença é que, em alguns casos, a área das comidas fica isolada por vidro ou acrílico 

e o cliente veste luva de plástico descartável para se servir, sempre com o uso de 

máscara obrigatório. 

Um dos segmentos que mais cresceram com a pandemia foi o da educação à 

distância ou online. Eu mesmo aproveitei o período de confinamento forçado para 

aperfeiçoar meus conhecimentos. A Escola Virtual de Governo, da Escola Nacional de 

Administração Pública (Enap), por exemplo, informou que, desde 1º de março de 2020 

até 1º de julho de 2021, foram registradas 2,3 milhões de inscrições em cursos online. 

O levantamento mostrou que quase 1,5 milhão de novos usuários entraram na 

plataforma desde o início da pandemia.

O setor de turismo é outro que está retomando suas atividades. As companhias 

aéreas já registram 70% do movimento que apresentavam antes da pandemia, apesar 

que muitos eventos institucionais estão acontecendo de forma virtual ou híbrida. Falase muito em “passaporte vacinal” ou a apresentação de comprovante de vacina para 

obter acesso a determinados eventos. Acredito que, em breve, esse tipo de exigência 

não será mais necessário.

E quem não se lembra do caso do navio Diamond Princess, onde mais de 500 

pessoas ficaram sob quarentena, no início da pandemia, em Yokohama, no Japão?! O 

setor de cruzeiros marítimos foi um dos primeiros a sofrer o baque da pandemia. Hoje, 

algumas companhias estão incorporando novos hábitos e rotinas e inserindo novas 

tecnologias a seus navios, como a instalação de filtros de ar capazes de remover quase 

100% dos patógenos aéreos. Outras estão adotando elevadores com comando de voz 

ou movimento, para que não seja necessário tocar nos botões. Também já existem 

aplicativos e dispositivos que permitem que os passageiros abram portas remotamente, 

inclusive da cabine, e até paguem pelo consumo a bordo, sem que o tripulante precise 

tocar o seu cartão individual. 

As empresas de bicicletas e patinetes compartilhadas, apesar das sombrias 

previsões iniciais, estão voltando e fazendo sucesso entre seus usuários, inclusive aqui, 

em Brasília, onde resido. Casas noturnas, bares, cinemas e teatros, além de estádios 

esportivos, registram gradativa volta do público, apesar do alerta de alguns 

infectologistas que ainda insistem na possibilidade de uma terceira onda da doença. No 

caso das academias de ginástica, por exemplo, a entrada de alunos por biometria está 

sendo substituída pela tecnologia do reconhecimento facial e recipientes com líquido 

sanitizante são disponibilizados em cada aparelho.

Já falei aqui sobre videoconferências, mas tem um aspecto que preciso ressaltar. 

No mundo profissional, principalmente, essas reuniões virtuais vão se tornar rotina. 

Lembro, no começo da pandemia, quando as pessoas tiveram que ficar em casa e 

conversar ou se reunir virtualmente. Aconteceram muitos casos engraçados, grotescos 

e bizarros, com pessoas flagradas despidas, soltando flatulências e até transando. Hoje, 

as plataformas estão mais preparadas para este tipo de situação e já disponibilizam 

fundos personalizados ou desfocados. 

O importante, é que o “novo normal” não vai ser muito diferente do que já 

conhecíamos antes da pandemia. Com certeza, a história será dividida em "Antes da 

Covid-19” e “Depois da Covid-19", mas nossa adaptação a esses novos tempos não será

tão sacrificante. 

Fábio Paiva é jornalista

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