Decisão amarrou o ministro Sérgio Moro e o presidente
Jair Bolsonaro
A decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, que
suspendeu inquéritos e ações penais que utilizam dados compartilhados da
Receita Federal e do Coaf sem autorização judicial, carrega em si muito mais do
que a polêmica a respeito de danos à investigação sobre a suspeita de
envolvimento do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na retenção de parte do
salário dos servidores de seu gabinete nos tempos em que foi deputado estadual.
Ou, por ter repercussão geral, por suspender também centenas de outros casos
semelhantes em todo o País. Ou até mesma à especulação de que agora o golpe na
Operação Lava Jato foi forte demais.
Na terça-feira, quando tomou a decisão de suspender as
investigações com dados compartilhados a pedido do primogênito do presidente
Jair Bolsonaro, Dias Toffoli atingiu por tabela o ministro da Justiça, Sérgio
Moro, e uma porção de outros personagens da política.
Mesmo que o Congresso tenha retirado o Coaf do Ministério
da Justiça, devolvendo-o ao Ministério da Economia a contragosto do ministro
Paulo Guedes, Moro continua a ser o chefe informal do órgão de controle das
atividades financeiras. A estrutura é a mesma do início do governo, quando a
medida provisória que mudou a Esplanada dos Ministérios foi editada por
Bolsonaro e fez a transferência do Coaf para a Justiça.
Tem mais, de acordo com informações que chegam aos
líderes partidários no Congresso. Hoje a Receita Federal também estaria sob a
influência do ministro Moro. Desse modo, o ex-juiz da Lava Jato, fundamental
para que a operação tivesse o êxito que teve e mandasse para a cadeia grandes
empresários, dirigentes partidários e o ex-presidente Lula, estaria com os dois
principais órgãos de controle nas mãos, o financeiro e o tributário.
Como o caso envolve o nome do senador Flávio Bolsonaro,
filho do presidente, e o presidente é o patrão de Moro, dificilmente o ministro
da Justiça fará qualquer tipo de reclamação contra Toffoli. Por sua vez, o
presidente Bolsonaro também ficará em silêncio. Reclamar de uma decisão que
beneficiou o filho? Para quê?
Quanto aos congressistas, verifica-se entre eles uma
clara satisfação a respeito da decisão de Dias Toffoli. O pessoal do PT, porque
aplaude qualquer coisa para dar uma segurada em Moro. Os outros, porque muitos
já ouviram informações de que são alvo de operações silenciosas, das quais
nunca conseguem noticias. Se estão mesmo em curso, nunca saberão, porque as investigações
dos dois órgãos são sempre sigilosas.
Se de um lado a decisão de Toffoli causou protestos dos
que defendem a atuação do Coaf e da Receita na identificação de suspeitos de
lavagem de dinheiro e de envolvimento em casos de corrupção, por outro recebeu
apoio, por ser considerada uma atitude em favor dos direitos individuais dos
cidadãos. O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, adversário dos Bolsonaros,
elogiou a decisão de Toffoli. Disse ao Estado que não é pelo fato de os
integrantes da família Bolsonaro terem dado declarações preocupantes e
contraditórias sobre a democracia que não mereçam ser protegidos por
instituições dessa mesma democracia. "Que bom a família Bolsonaro ter
confiado no STF para garantir seus direitos", afirmou Santa Cruz.
Existe um grupo enorme de cidadãos que serão prejudicados por esta medida tomada pelo presidente do STF. São os participantes dos fundos de pensão que apresentaram deficit por má gestão e corrupção. As investigações judiciais serão fortemente prejudicadas por esta medida. É uma injustiça ao se "fazer justiça generalizada".
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