Artigo, Eugênio Amorim - Cálice (Cale-se)

Eugênio Amorin

Promotor de Justiça

epa1966@hotmail.com

Cálice (Cale-se)

“Pai! Afasta de mim esse cálice!” Tais palavras são atribuídas a Jesus Cristo 

na Bíblia. Com a mesma frase e fonação, Chico Buarque de Hollanda 

compôs para bradar contra o “cale-se” que era imposto pela censura do 

regime militar.

Na verdade, Chico também disse que “vai passar” e que “amanhã vai ser 

outro dia”. E eu já digo, como minha afilhadinha Amanda: “ aham...sei!”

Vivemos tempos angustiantes e ditatoriais! Não temos mais o direito de 

falar o que pensamos, não temos mais o direito de fazer o que queremos e 

tememos que chegue o dia em que eles acessem o nosso próprio 

pensamento e sejamos alijados e punidos por isso.

Na verdade, quando não temos mais a mínima liberdade de expressão – a 

depender, é claro, de que lado estamos na guerra ideológica e cultural -, 

deixamos mesmo é de existir.

Você quer escrever algo nas redes sociais sobre a bandalheira nacional? 

Não pode! Será cancelado e bloqueado. Se for empregado provado, vão 

pedir sua demissão; se for funcionário público, receberá toda a sorte de 

penalidades, inclusive a .... (censurado).

Se você tiver um pensamento contra as modernidades que está vendo por 

aí, será tachado de inúmeros adjetivos e se insistir será até agredido 

fisicamente.

Todo mundo se ofende por tudo e por todos. O mi mi mi está estabelecido! 

Criam-se patrulhas de todas as espécies, com os nomes mais bizarros, os 

integrantes mais sujos o organizam-se entre si para calar, calar e calar...

E o mais interessante é que essa Gestapo e seus integrantes vivem falando 

em democracia, igualdade, justiça social e blá, blá, blá. Não é à toa que, 

comprovando a posse paradoxal destas sagradas palavras, não se 

conseguem esconder sua admiração por grandes ditadores e assassinos que 

manietaram e mataram milhares.

Vou terminar! Já escrevi demais! Posso ser punido! Achou curto? Vou voltar 

à vida que tenho vivido nos últimos dois anos, pelo menos: Uma morte do 

“eu” em vida.

Não escrevo e nem falo o que penso, cuido milimetricamente cada palavra 

que emitirei, na vida pessoal e mesmo no Tribunal do Júri, e ando escondido 

na busca do ponto cego das câmeras do Grande Irmão de George Orwell.

Achou pouco? Sim, deixei, 500 caracteres omissos. Ali estão meus 

pensamentos, são somente meus. Minha lista de liberdade. Lugar onde 

eles, os malditos, não entram....

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