“Não acho Bolsonaro feio, de jeito nenhum, e por mais que o deteste politicamente, não lhe nego as qualidades da simpatia e do bom humor. Vejo pouca eletricidade sexual, contudo, entre Bolsonaro e suas admiradoras. Os tempos são outros, e a mulher bolsonarista não está canalizando suas frustrações sexuais (de resto, quem não as tem?) no ex-capitão de olhos azuis.”
“Acho que o atual extremismo feminino tem mais a ver com uma questão de autoridade. Penso na pequena ‘empreendedora’ que se orgulha de seu papel produtivo, e das broncas que sabe dar nos songa-mongas que emprega a salário baixo. Ou na dona de casa que há 30 anos vive com um idiota e acha com razão que se não fosse por ela a família toda já estaria morando debaixo da ponte. É também a síndica que impede o condomínio de virar maloca. Ela viu os filhos da vizinha entrarem no mundo das drogas e se felicita por ter educado os seus à moda antiga. Ou, quem sabe, gostaria de ter tido essa firmeza toda e, ao contrário, se vê humilhada pelo marido, ignorada pelos professores da escola em que trabalha (são uns esquerdistas desgraçados); já teve conflitos com a nora e, entre um barraco e outro, acaba tendo de engolir o que não quer. Ofendeu e foi ofendida; manda e é mandada. A vida, para ela, é uma luta —não para conquistar direitos, ou para sair da pobreza, mas para se manter no lugar em que está. Reconhece em Bolsonaro as suas próprias características. Não vê no presidente, portanto, um agressor de mulheres, um machista pré-histórico. O que incomoda a mulher bolsonarista são figuras como Dilma Rousseff ou Maria do Rosário: a militância de esquerda, o feminismo, a crítica à sociedade patriarcal. É isso o que ela não admite. Tudo, menos estar lado a lado numa luta que unifica negros, homossexuais, indígenas, populações sem teto. Ela não se considera uma vítima de uma ordem social qualquer; isso a rebaixaria demais. Destrutivo e grosso, obsceno e chocante, descontrolado e durão, Bolsonaro é o falo que a bolsonarista gostaria de ter, ou que imaginariamente possui. O marido não é lá essas coisas; Bolsonaro faz dela o homem da casa.”
JORNALISTA OU MARGINAL?
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