Na presidência rotativa do G-20, o Brasil vai propor que as maiores economias do mundo discutam a regulação conjunta das redes sociais e da inteligência artificial. O tema é importantíssimo, sem dúvida, mas é curioso que a iniciativa parta do Brasil, que não consegue sequer avançar em uma solução interna para a questão. O PL das Fake News está emperrado no Congresso, abrindo espaço para que STF e TSE “legislem” sobre o assunto.
A política externa de Lula é assim: um misto de incoerência e desespero. Ora escancara o duplo padrão em questões como direitos humanos e democracia, ora se lança à caça de novas causas universais para compensar a incapacidade de ter uma liderança verdadeira no seu espaço natural (o entorno sul-americano) e nos temas mais óbvios (como ambiente e segurança alimentar).
Na gestão FHC, cristalizou-se o entendimento de que era preciso consolidar uma liderança regional para, a partir dela, projetar uma maior participação brasileira nas discussões globais.
Lula, em seus dois primeiros governos, que coincidiram com uma onda de governos de esquerda na região, deu continuidade a esse princípio, acrescentando a diversificação de parceiros internacionais à equação.
O contexto agora é outro. A pretensão de Lula de reeditar as alianças de esquerda na América do Sul, sob sua liderança, deu com os burros n’água. Não há alinhamento ideológico com os parceiros do Mercosul.
Os presidentes Gabriel Boric, do Chile, e Gustavo Petro, da Colômbia, são de esquerda, mas tiveram atritos públicos com Lula recentemente.
Nicolás Maduro, na Venezuela, é tudo menos confiável e acaba de criar um problema para o Brasil na fronteira com a Guiana.
O governo de Maduro, para quem Lula estendeu tapete vermelho em Brasília no ano passado, está sendo investigado por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Sobre isso, nenhuma palavra de Lula, que na semana passada apoiou iniciativa da África do Sul de denunciar Israel por genocídio na guerra em Gaza.
Nesse caso, Lula sabe o que é e para que serve o TPI. Em setembro, ele disse que desconhecia o tribunal e que não via motivos para obedecer ao mandado de prisão emitido contra o ditador Vladimir Putin, caso ele resolva comparecer à cúpula do G-20 deste ano, no Rio. Para Lula, a legitimidade do TPI vale para Israel, mas não para a Rússia. Incoerência e desespero. •
A pretensão de Lula, de liderar alianças de esquerda
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