- O autor, Jota Júnior, é ativista político e influenciador gaúcho
Redes sociais do autor: @sigaonegro
No palco trágico do Rio Grande do Sul, onde as enchentes de 2024 escreveram um capítulo de dor e resiliência, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Comunicação, anunciou com pompa o documentário “Todos Nós por Todos Nós”. Prometido como um tributo à maior catástrofe climática da história gaúcha e à recuperação do estado um ano após o dilúvio, o filme deveria ecoar os lamentos das vítimas, os gritos dos heróis anônimos, o pulsar de um povo que se ergueu da lama.
Mas, caro leitor, guarde suas esperanças. Esta não é uma ode à coletividade, mas um espelho polido para o ego do governador Eduardo Leite — ou, como o batizamos aqui, EGOardo Leite, o protagonista de uma fábula onde a vaidade flutua acima das águas.
“Todos Nós por Todos Nós” é menos um documentário e mais uma epopeia cinematográfica, uma peça publicitária meticulosamente coreografada para pavimentar a trilha de EGOardo rumo à pré-candidatura presidencial. Quando Leite jurou ser contra a reeleição, não mentiu. As urnas o reconduziram ao Palácio Piratini, mas seu coração já não pertence ao Rio Grande do Sul.
No filme, EGOardo ocupa mais de 20% do tempo de tela, uma presença tão onipresente que faz as vítimas parecerem meros coadjuvantes em sua própria história. A câmera, apaixonada por seu astro, busca desesperadamente capturar uma lágrima, um lampejo de emoção genuína. Há zooms dramáticos, closes em olhares ensaiados, uma comoção tão forçada que beira o pastiche. Enquanto o Rio Grande do Sul afundava em rios de desespero, nenhuma gota caiu dos olhos do governador — não por falta de esforço da equipe de filmagem, é claro.
Sugiro, com um toque de sarcasmo, que Eduardo Leite considere uma mudança de nome. EGOardo soa mais fiel à sua essência, uma ode à pedância que transforma um marco histórico do estado em uma autobiografia mal disfarçada.
Já vi atores cruzarem o palco para a política — Alexandre Frota, com sua sinceridade desajeitada, é um exemplo. Mas um político que abandona o dever para ensaiar como ator? Isso é novidade. EGOardo Leite, com sua performance ensaiada, não governa; atua. Não lidera; encena.
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