O site “O Antagonista” informa hoje que o vice-presidente
Michel Temer disse a Jaques Wagner que o PMDB, neste sábado, vai se afastar do
governo.
Um de seus auxiliares citou a seguinte frase a O Globo:
“Com as novas denúncias e o agravamento da crise, o grupo do PMDB que quer o
rompimento com o governo hoje é majoritário e ostensivo. O partido quer um
afastamento, só não se sabe ainda em que nível isto se dará”.
O peemedebista Michel Temer está pronto para assumir o
lugar de Dilma.
Em dezembro, Temer mandou uma carta para Dilma e a vazou
propositalmente para imprensa. Nas entrelinhas.... ele queria ter um “habeas
corpus”: “Eu não faço parte dessa roubalheira, o PMDB não faz parte dessa
Gang”. Releia a carta de Temer:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras
voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso
noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas
no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria
ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear
publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes
cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da
Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural
discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança
da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança
incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu
governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9%
votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o
candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo
usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito
que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera
desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice
decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera
no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para
resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir
formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios,
secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não
renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo
trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação
minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia
seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o
Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o
governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil
técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que
fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta
"conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a
coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado,
atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque
dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em
jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha
sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos.
Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo
solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela
coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora
resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo
sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros,
sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor
preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São
Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente,
com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a
primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do
DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos.
Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem
razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O
Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião
de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade -
sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve
que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se
faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as
conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça,
para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem
significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores
autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão
com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro",
aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para
recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a
sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como
Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o
que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o
País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e
no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
MICHEL TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
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