Lula está perdido. E disso dão testemunho os que convivem
com ele, e os que o escutam falar nos raros atos públicos a que comparece
Primeiramente… Se Dilma tivesse chances de voltar ao
cargo do qual foi afastada, ela não acenaria, como o fez em entrevista à TV
Brasil, com a proposta de convocação de um plebiscito para que os brasileiros
digam se são favoráveis a uma eleição presidencial antecipada. Caso ocorresse,
a eleição serviria à escolha de um presidente para completar o mandato de
Dilma. O que significa…
Que Dilma tem plena consciência de sua impossibilidade de
governar até o dia 31 de dezembro de 2018, como deveria. O impeachment passou
na Câmara com os votos de 71,5% dos 513 deputados, obrigando-a a se afastar do
cargo. Foi admitido no Senado com os votos de 67,9% dos 81 senadores. Esse
percentual tem tudo para ser maior no ato final do julgamento dela.
Dilma caiu porque pedalou contra o Tesouro, fez um
governo desastroso e perdeu apoio político. Quer voltar por pouco tempo,
preocupada apenas com sua biografia. “Querida, deu errado. Você só tem de
escolher por qual porta sair”, ensinou Lula a Dilma no dia em que ela se despediu
do Palácio do Planalto. Hoje, refugiada no Palácio da Alvorada, espera que a
sorte mude seu destino.
Para ela, bem que os brasileiros poderiam se encantar
outra vez com a ideia de Diretas, já! Ou seja: nem Dilma, nem Temer, mas um
terceiro. E já! E assim, devolvida temporariamente ao poder, Dilma sairia mais
tarde dali pela porta de quem abdicou de direito adquirido pensando acima de
tudo no país – Dilma, a generosa; Dilma, a abnegada; Dilma, a estadista.
Haveria outra porta pela qual a ex-presidente poderia
sair: a do rotundo fracasso do governo provisório de Temer. Ela nunca admitirá
que torça para que Temer fracasse, mas não faz outra coisa, não deseja outra
coisa. Dane-se o país se esse for o preço a pagar para dar um lustro no que se
dirá de Dilma no futuro. Golpeada, Dilma caiu, mas o golpista-mor, também.
Vítima e algoz. Lorota!
Temer é visto com muita desconfiança, e é natural que
seja. Ele é do PMDB, partido tão encrencado na Lava-Jato quanto o PT. Por duas
vezes foi vice de Dilma, responsável, assim como Lula, pela dramática situação
econômica, política e moral que o país atravessa. Temer é uma esfinge. Mas
Dilma, não. Decifrada, a maioria dos brasileiros deu-lhe as costas.
Lula está perdido. E disso dão testemunho os que convivem
com ele, e os que o escutam falar nos raros atos públicos a que comparece. No
da última sexta-feira, que lotou apenas quatro quadras da Avenida Paulista, no
centro de São Paulo, nem Lula nem ninguém perdeu tempo em comentar a proposta
de plebiscito com diretas, já. Daqui a dois anos haverá diretas. Antecipá-las
para quê? Para o PT perder?
Agora a derrota seria certa. Este ano ou em 2018, não se
sabe se o PT contaria com Lula como candidato. Sérgio Moro deve saber. Ou o
ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal. Lula poderá escapar de ser
preso para que não se dê ao PT um aspirante a mártir. Não mais uma jararaca de
vida curta, talvez um São Sebastião flechado. Mas livrar-se da Lava-Jato,
esqueça. Ele não se livrará.
Se Temer não for alvejado por uma bala perdida ou, pior,
certeira, dessas que ultimamente produziram severo estrago na imagem de
influentes caciques do PMDB, seguirá capengando na direção do seu Santo Graal –
um ajuste nas contas públicas e a aprovação de algumas reformas econômicas. É
pouca ambição? Não, não é. Nas atuais circunstâncias, é muita.
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