Os números da pesquisa Datafolha foram claros. Em julho,
31% dos entrevistados achavam que o governo de Michel Temer era ruim ou
péssimo. No início de dezembro, antes que se conhecesse o conteúdo da primeira
colaboração da Odebrecht, eram 51%. Tudo bem, ele recebeu uma herança maldita,
mas enquanto o PT paga sua conta com a Lava-Jato há mais de um ano, o PMDB de
Renan Calheiros, Romero Jucá, Moreira Franco e Eliseu Padilha só agora começou
a receber a visita dos cobradores.
Quem sabe, um dia a economia começa a respirar, a Lava-Jato
sai da ribalta e São Jorge ajuda. Prometendo uma “Ponte para o futuro”, Temer
oferecia esperança, pedindo confiança. A ponte virou pinguela e, como diz
Fernando Henrique Cardoso, é a que temos. A mesma pesquisa informou que, entre
março e dezembro, Lula pulou de 17% para 25%, nas preferências para um primeiro
turno na próxima eleição presidencial, com variações desprezíveis dependendo do
cenário.
Atrás dele vem Marina Silva, com cerca de 15%, em queda
em todos os cenários. Numa previsão de segundo turno, Marina derrota Lula e
todos os outros. Nessas simulações, “Nosso Guia” (expressão cunhada pelo então
chanceler Celso Amorim) derrota todos os outros, salvo Marina. A cruz de Lula é
sua rejeição (44%), empatado com Temer (45%).
Pesquisa de opinião em 2016 para uma eleição que está
marcada para 2018 vale pouco mais que um horóscopo, mas o sinal que vem do
Datafolha é claro: o caminho de “todos os outros” será pedregoso. Marina Silva
prevalece num segundo turno, contra Lula, Geraldo Alckmin, Aécio Neves e José
Serra. Lula só perde para ela. Como ele mesmo disse, “a jararaca está viva”.
Não só viva, como tonificada por um governo que anuncia uma reforma da
Previdência que mais se parece com um rebanho de bodes.
Se isso fosse pouco, falta-lhe a humildade de reconhecer
que a prometida (e indefinida) reforma trabalhista foi um balão de ensaio para
enternecer o andar de cima, que acabou enfurecendo o de baixo. A jararaca
poderá morrer com uma sentença judicial, mas o acordão do Supremo Tribunal que
manteve Renan Calheiros na presidência do Senado foi um presente para o
comissariado. Só o tempo e os autos dirão se as culpas de Lula são suficientes
para torná-lo inelegível.
Para quem se esgoelou na Avenida Paulista gritando “Lula
cachaceiro, devolve o meu dinheiro”, as notícias são ruins. Os brasileiros
olham com desdém para a política argentina e desprezam os vizinhos encantados
pelo fenômeno do peronismo. Afinal, Juan Perón foi um general larápio deposto
em 1955 que voltou ao poder, caquético, em 1973 e morreu em 1974, deixando o
governo para sua mulher, Isabelita, uma senhora que conheceu num cabaré
panamenho.
O peronismo sobreviveu a dois golpes e, na sua última
encarnação, chamou-se kirchnerisno. Quando Perón foi deposto em 1952, os
militares fizeram uma exposição das joias e vestidos de sua mulher, Evita,
morta pouco antes. Coisa para classificar o luxo do casal Sérgio Cabral como
“periferia chic”. Vestidos? Christian Dior e Balenciaga. Joias? Uma tiara de
brilhantes.
São muitas as teorias para explicar a resistência do
peronismo. Seu oxigênio é a demofobia do andar de cima argentino. É uma gente
finíssima, deu a duquesa de York à Inglaterra e a rainha Maxima à Holanda, só
não entende um povo que vê em Evita uma princesa.
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