alon.feuerwerker@fsb.com.br
A tese antes da posse era que o radicalismo do presidente da República seria domado pelo
pragmatismo e profissionalismo dos generais e pelo liberalismo democrático e
competente do ministro da Economia, e respectivo dream team. Aqui a
vida real reservou outro habitual imprevisto. O presidente parece ter mais jogo
de cintura que os candidatos a tutor, pelo menos para tratar com os outros
pilares do poder constitucional (Congresso, Supremo).
O titular da Economia anda meio recolhido, depois de dois tropeços na
comunicação. Desta vez veio de um general, o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, o sinal mais dolorido da perda de paciência com o Congresso. Na
sequência da revelação pública da explosão do general, a base (ou a cúpula)
bolsonarista desencadeou a chamada para um 15 de março de apoio a ele e repúdio
ao Legislativo, em particular aos presidentes da Câmara e Senado.
Governos são animais que vivem sob pressão constante, e a falta de traquejo
costuma abrir espaço para vozes que nas horas complicadas pregam a “fuga para
adiante". Na maioria esmagadora dos casos dá errado. Numa releitura
adaptada da célebre frase de Joãosinho Trinta, governo tem de gostar de
governar, pois quem gosta de gente na rua é a oposição. Se já tiverem
esquecido, bom lembrar de junho de 2013. Dica: ver como começou e como
terminou.
A oposição está entretida com as questiúnculas que cercam as eleições
municipais, discutindo se em 2022 a frente deve ser ampla ou de esquerda, no
máximo ataca o governo nas redes sociais. A greve dos petroleiros começou e
terminou isolada. No STF o governo vive um ambiente de paz e cooperação. No
Congresso, se tiver paciência e sangue frio, conseguirá que as reformas fiquem
próximas do por ele desejado. No bottom line o governo não tem
problema político real.
Problema mesmo o governo enfrenta nos canais de reverberação da dita sociedade
civil. Mas estes não têm mostrado capacidade física de mobilização
antigovernista. Por uma razão singela: o “centro" não consegue colocar
povo na rua e tampouco está a fim de se juntar com quem poderia conseguir, pois
decidiu há algum tempo que o caminho para voltar ao poder passa pela “luta
contra os dois extremos”.
Coisa que, como se sabe, vem tendo um sucesso danado aqui e no mundo todo.
Introduzir a variável “rua” no cenário só interessa à oposição. E a defesa do
Congresso e suas prerrogativas, como parte da defesa da Constituição de 1988, é
o prato feito para quem pretende aglutinar as forças antibolsonaristas. Um
achado para os opositores na preparação das eleições municipais. Especialmente
quando a economia, apesar de sinais de melhora, ainda nem de longe pode ser
descrita como brilhante.
No popular, é real o risco do tiro sair pela culatra.
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