Artigo, Fernanda Torres, Rede Globo - Ninguém sairá o mesmo desta quarentena

CLIQUE AQUI para ler o original no UOL.

Torço para que o coronavírus, a exemplo da peste negra, abrevie o obscurantismo medieval em que nos metemos.
(…)

Clamando pela proteção do Senhor, os tementes se juntavam às romarias ainda sãos, caíam doentes no decorrer do trajeto e terminavam o périplo em covas rasas. Foi necessário o alarmante milagre da multiplicação de óbitos para que a Igreja suspendesse missas, procissões e aglomerações de fiéis.

Sete séculos depois, Edir Macedo solta um vídeo na internet afirmando que o medo da Covid-19 é obra de Satanás.

Não satisfeito, procura fundamentar a tese com o depoimento de um patologista, doutor Beny Schmidt, que deveria ter o registro de CRM cassado.

“Morrer é o destino humano”, diz o doutor. “A gente morre de hipertensão, de diabetes, de câncer e de hemorragia, mas de coronavírus a gente não morre, porque Deus não quis.”

Sete séculos depois da disseminação da peste, Jair Bolsonaro desce a rampa do Planalto para trocar gotículas com seus seguidores como se não houvesse amanhã

(…)

Jair governa para o próprio gueto. Se reinasse na Europa do século 14, pregaria o Apocalipse e incitaria o autoflagelo em cortejos suicidas.

(..)

A aliança entre o ultraliberalismo econômico e o populismo de extrema direita enfrenta seu primeiro desafio com uma crise que mais parece lição divina.

A iniciativa privada será incapaz de substituir o Estado no atual salve-se quem puder. Todos os países do mundo estão abrindo as torneiras. Paulo Guedes será obrigado a agir na direção contrária de tudo o que aprendeu em Chicago e sonhou e planejou e prometeu. Duro acaso.

Torço para que o centro ressurja dessa emergência. E que o coronavírus, a exemplo da peste negra na Europa do século 14, venha abreviar o obscurantismo medieval travestido de liberal em que nos metemos.

No lado pagão, é preciso reconhecer, nota-se o mesmo estado de negação. Por não se sentirem ameaçados pela doença, os jovens descumprem o resguardo e lotam praias, bares e baladas. O egoísmo também serve de instrumento para o Capeta.

Ninguém sairá o mesmo desta quarentena. Daqui a quatro meses atingiremos, dizem, a imunidade de rebanho. Enterrados os mortos, espero que voltemos às ruas mais humanos e menos afeitos a fundamentalismos religiosos, políticos e econômicos.

Talvez esse vírus seja mesmo o recado de Deus. Deus natureza cansado do ódio, da ignorância, da irracionalidade, da brutalidade, da violência e da vileza dos mitos e profetas. Um Deus farto das trevas e ansioso por um Renascimento.

Aconteceu na Europa, 700 anos atrás.

4 comentários:

  1. A esquerdalha destila seu ódio e esquece o que é racional,preferem o remédio que mata,mas que também serve para cura. ninguém está imune a este vírus,então deixem de espalhar o pânico e ajude a disseminar o bem,e lembre-se estamos no mesmo barco.

    ResponderExcluir
  2. Ainda bem que doenças, ao contrário do que pensa essa assistente do satanás, não escolhem em quem se instalar e matar. Ela esqueceu que é mortal e está na fila do inexorável.

    ResponderExcluir
  3. O site boatos.org está dizendo que é boato, mas está parecendo que é verdade !

    ResponderExcluir
  4. Boato, ela não torce para o coronavirus, ela torce para que o centro ressurja e que o obscurantismo seja varrido. https://www.boatos.org/entretenimento/fernanda-torres-torce-coronavirus-mate-muitos-brasileiros.html

    ResponderExcluir