- O autor,Marcelo S. Portugal, é PhD em Economia e professor titular na UFRGS
O Covid-19 gerou três choques sobre a economia mundial. Um choque de oferta, pois a paralisação das fábricas em uma região que corresponde a 55% do PIB da China atrapalhou o suprimento das cadeias de produção globalizadas. Um choque de demanda, pois o pânico, que se espalhou mais rápido do que o vírus, gerou uma redução do consumo na China e no mundo, com efeitos negativos sobre vários setores.
E, por fim, um choque financeiro, pois muitos bancos internacionais retraíram o crédito para as empresas em dificuldade. A combinação deles reduziu as perspectivas de crescimento do mundo, afetando negativamente os preços de commodities.Não bastasse tudo isso, uma disputa entre Rússia e Arábia Saudita gerou um derretimento dos preços do petróleo, o que, em condições normais, seria uma boa notícia. Contudo, em meio à crise de confiança global, a queda de mais de 30% no preço do petróleo serviu para acelerar o pânico financeiro.
De certo até agora, só a desaceleração da atividade e o aumento dos estímulos monetários em todo o mundo. E pode ser ainda pior se os EUA e a Europa aplicarem quarentenas no estilo chinês.
Cabe ao Brasil reagir à crise com medidas de curto e médio prazos. No curto prazo, as intervenções cambiais e o afrouxamento monetário, com redução da Selic e do compulsório, ajudam a diminuir a volatilidade financeira. Infelizmente, como nosso setor público está quebrado, não é possível fazer estímulos fiscais. Em 2009, quando tínhamos um gordo superávit primário, isso foi possível, mas agora a realidade é outra. Medidas fiscais inconsequentes teriam efeitos muito negativos no longo prazo. Basta lembrar que ainda estamos pagando a conta da Nova Matriz Econômica.
No médio prazo, a melhor estratégia é perseverar nas reformas. Aprovar a PEC Emergencial, por exemplo, dá mais flexibilidade no gasto e pode aumentar o investimento público. Acelerar as concessões e privatizações, como no caso da Eletrobras, gera investimento privado em infraestrutura. É preciso ter calma e atacar as instabilidades monetárias de curto prazo sem voltar a cometer os erros do passado.
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