O Twitter baniu a conta da jornalista Paula Schmitt sem apresentar razão específica para a decisão. Apenas aludiu, como de hábito, a uma imprecisa “violação de regra de desinformação sobre covid-19”. Qual, não se sabe – provavelmente porque a rede social não conseguiria demonstrar com objetividade a razão para o silenciamento da jornalista, que sempre apoiou suas opiniões em múltiplas referências a autores e pesquisadores com o timbre de sólidas instituições e fontes. Os longos e fundamentados artigos que Paula publicou podem ser encontrados no Poder 360. O site é um dos poucos espaços que restaram abertos ao debate no jornalismo brasileiro desde que alguns veículos tradicionais de mídia impressa e eletrônica fizeram um pacto cujo efeito foi cercear o livre curso das ideias e dos possíveis achados científicos que trouxessem questionamentos sobre segurança e eficácia de vacinas, ou evidências sobre contribuição de medicamentos reposicionados para prevenção ou combate à doença.
Paula dirigiu sua verve crítica ao comportamento de cientistas que incorriam, a seu ver, em conflitos de interesse por ligações com a indústria farmacêutica ou recebimento de fundos para suas pesquisas. Os grandes laboratórios farmacêuticos globais e sua teia de influência sobre agências governamentais e fundos de investimento foram expostos com desassombro pela jornalista em textos que não se consegue ler superficialmente, tal a profusão de links que descortinam ao leitor uma realidade muito mais complexa do que a verdade pasteurizada que lhe apresentam jornais e telejornais com desapreço pelo contraditório. Paula tem viés? Todos têm, ora. Por isso é que a imprensa jamais deve renunciar ao primado do pluralismo de visões, única forma de respeitar a inteligência e a autonomia de decisão do público frente a diferentes facetas da realidade.
O cerceamento e a censura a cientistas, jornalistas, médicos, agentes públicos e muitos que lançaram questões relevantes para o debate indicam a lenta e excruciante agonia da liberdade. Aliás, nos últimos dias a Faculdade de Direito da USP lançou sua festejada carta “em defesa do Estado democrático de direito”. Nenhuma linha sobre abusos da suprema corte e a violação ao devido processo legal e ao sistema acusatório brasileiro. Mudez sobre a prisão de jornalistas e políticos por palavras e opiniões que emitiram. Absoluto silêncio a respeito do exílio que o STF impõe ao jornalista Allan dos Santos. A carta fala em “desvarios autoritários” nos EUA enquanto ignora violências praticadas aqui mesmo contra as leis e a Constituição do país, como impedir advogados de terem acesso aos autos para a defesa de seus clientes.
O texto do autoproclamado “território livre” do Largo de São Francisco, endereço da Faculdade de Direito da USP, tem 634 palavras. Você sabe quantas vezes aparece a palavra “liberdade”? Nenhuma. Ao que parece, nenhum dos redatores percebeu. Ou se importou.
Deve ser este o tão anunciado “new normal” que o coronavírus nos legaria. “Esqueça liberdade.”
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