Estudo baseado em informações do TSE mostra concentração de recursos públicos em postulantes brancos, mais ricos e candidatos à reeleição
O Instituto Millenium divulgou nesta sexta-feira (9) levantamento que mostra a distribuição do Fundo Eleitoral nas eleições de 2022. De acordo com os dados analisados até o dia 03 de setembro, 3,4% dos candidatos receberam o equivalente a 90,7 % dos recursos do fundão distribuídos até o momento. Em outras palavras, 950 candidatos tiveram acesso a R$ 2,5 bilhões. O estudo é baseado em informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em plena corrida eleitoral, o levantamento revelou que a maioria dos candidatos ainda está sem dinheiro do fundão para investir na campanha. De acordo com o instituto, 41% dos candidatos aptos até o momento receberam algum recurso, logo, 59% não receberam nada.
Ainda de acordo com os dados, há diferença entre valores destinados aos veteranos e aos novatos. A mediana (medida de tendência central menos sensível a valores extremos) para candidatos à reeleição de deputado federal é de R$ 1,3 milhão, enquanto à dedicada aos que não são candidatos à reeleição é de R$ 90 mil, 14 vezes menos.
Para os outros cargos da disputa, a dinâmica da diferença de valor também se repete. Para deputado estadual, essa relação é de R$ 200 mil (candidatos à reeleição) para R$ 30 mil (não candidatos à reeleição). Já para senador, de R$ 3 milhões para R$ 950 mil.
Os candidatos à reeleição representam apenas 4,7% (1.315) do total, mas já acessaram 29,4% do fundo, ou seja, R$ 917 milhões de reais, até o momento. Para eles, a média de verba recebida é de R$ 858 mil reais, enquanto a média de recursos para os não candidatos à reeleição é de R$ 184 mil reais (4,6 vezes menos). Os números relacionados aos candidatos que disputam a reeleição do TSE não levam em consideração políticos que estão concorrendo este ano e que ficaram afastados nas eleições passadas.
Na análise de distribuição por partido, o PROS é o que concentra mais recursos em candidatos à reeleição, com mediana de R$ 3 milhões. Já o PMB, UP, DC e PSTU não destinaram recursos para candidatos à reeleição esse ano. O Partido Novo não foi contabilizado porque não utiliza recursos do Fundo Eleitoral em suas campanhas.
Até a finalização da pesquisa, o PT foi o partido que mais contratou despesas, considerando todas as fontes de receitas (públicas e privadas). O partido contratou 18% das transações até agora. A legenda destinou 39,9% das contratações para cargo de deputado federal, 21,8% para governador, 21,1% para deputado estadual e distrital, 11,4% para presidente e 5,8% e para senador.
No recorte por etnias, nota-se que quase todos os partidos destinaram mais recursos do Fundo Eleitoral para candidatos de etnia branca (66,2% do valor total distribuído até o momento). PROS, DC, PSDB e PT foram os que mais destinaram recursos para candidatos brancos. Já UP, PSOL e PSTU apresentam o maior percentual de recursos distribuídos entre os negros.
Ao verificar os cargos, quase 100% dos recursos pra presidente estão sendo direcionados a pessoas brancas. Já para governador, a mediana para candidatos brancos está em R$ 2,4 milhões, enquanto que, para candidatos negros, esse valor é de R$ 213,3 mil, ou 11 vezes menos.
Segundo o Instituto Millenium, os dados demonstraram que o fundo eleitoral não incentiva a participação feminina na política. De todo o valor distribuído, somente 27,9% foi destinado a mulheres, ainda que haja cota para tal. O percentual, inclusive, é menor que o de candidaturas femininas (33,7%).
A pesquisa utilizou informações do TSE divulgadas até 3 de setembro deste ano. Naquela data, já tinham sido distribuídos R$ 3.101.040.192,86 (3,1 bilhões de reais) a 14.267 candidatos.
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