Uma copa do mundo para a segurança pública

Uma copa do mundo para a segurança pública
De acordo com dados consolidados do Tribunal de Contas da União (TCU), a conta final da Copa do Mundo de 2014 no Brasil ficou em R$ 25,5 bilhões, entre construção de estádios, mobilidade urbana, aeroportos e obras no entorno das arenas. Num país que carece da falta de investimentos em tantas áreas importantes, o volume dispendido para preparar o país como sede de um evento esportivo daria para resolver uma série de problemas estruturais. Fiquemos apenas com a área da segurança pública, setor que passa pela maior crise estrutural de toda a nossa história. Com “apenas” um bilhão poderíamos construir 25 novos presídios federais de alta segurança. Já pensaram na ideia de promovermos uma Copa do Mundo da Segurança Pública e contar com um orçamento dessa natureza? O que poderíamos fazer com os outros R$ 24,5 bilhões? Com certeza resolveríamos uma série de problemas. Equipamentos de ponta para as polícias civil e militar, viaturas, aeronaves, armamento, contratação de novos servidores e valorização das corporações. Chegamos numa verdadeira encruzilhada. Ou resolvemos o problema do crime organizado, da violência urbana e rural, ou sucumbiremos como sociedade. Esse ambiente hostil produz diversos reflexos em nosso tecido social. Talvez o mais visível deles seja a grande mortalidade de cidadãos inocentes. Vivemos em tempos de paz, sem guerra declarada com nenhum outro país. No entanto, as estatísticas de homicídios e latrocínios nos colocam ao lado de nações que vivem conflitos armados. Em algumas situações, superamos países onde está instalada a chamada guerra convencional, caso da Síria, por exemplo. O Brasil é o campeão em número absoluto de homicídios no mundo, com 60 mil mortes por ano. A cada 10 minutos uma pessoa é assassinada por aqui.  De acordo com estudo divulgado pelo Conselho Cidadão à Segurança Pública e à Justiça Penal, das 50 cidades mais violentas do mundo em 2016, 21 eram brasileiras. São tantos números negativos, tantas estatísticas ruins. Outro reflexo da criminalidade pode ser sentido pelo crescente aumento dos investimentos em itens de segurança patrimonial. Sejam em casas, condomínios e empresas. Nesse particular, é importante frisar que empreender no Brasil virou uma atividade de altíssimo risco. E isso gera um custo altíssimo para o nosso setor produtivo. Já não temos mais o chamado Custo Brasil apenas para deficiências de infraestrutura, como portos, estradas e ferrovias. O roubo a cargas, depósitos e a necessidade de maiores investimentos em segurança pesam cada vez mais nos processos operacionais das companhias. O setor privado e a sociedade precisam compreender a sua importância para virarmos esse jogo. Parcerias público-privadas que permitam a realização de projetos e a reaproximação das comunidades com os agentes da segurança e as instituições. Por isso, repito: precisamos de uma Copa do Mundo da Segurança Pública. Maciços e pesados investimentos em inteligência, equipamentos, estruturas prisionais de ponta e pessoal. Do contrário, seguiremos acumulando bárbaros troféus de campeões mundiais da bandidagem.

Por Tenente-Coronel Luciano Zucco 

Oficial do Exército e Especialista em Segurança 

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