A milionária compra de uma frota sem condições de uso
pela Trensurb é um trágico exemplo do que as ingerências políticas nas
indicações de quadros para as estatais podem provocar Eduardo Oliveira /
Arte/ZH
Equivocada desde o início, a compra
pela Trensurb de uma série de veículos parada até hoje ganhou um
elemento novo que a torna ainda mais grave e reforça a necessidade de
providências imediatas. A ata divulgada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI)
não deixa dúvida: às vésperas da assinatura do contrato, a empresa abriu
mão de testes que poderiam ter evitado problemas na aquisição realizada em
2012. A sucessão de falhas nessa desastrada operação mostra até onde podem ir
prejuízos de empresas públicas nas quais interesses políticos se sobrepõem aos
técnicos.
Quando decisões sobre um negócio como esse, no valor de
R$ 244 milhões, ficam na dependência de pessoas sem o necessário conhecimento
da área e sem qualquer preocupação com o uso racional de dinheiro dos
contribuintes, a conta acaba sobrando para todos. É o que se constata agora.
Trens novos, que deveriam ficar à disposição de milhares de usuários por no
mínimo três décadas, seguem sem circular. As razões se devem a uma sucessão de
problemas técnicos, que vão de falhas nos rolamentos das rodas a vazamentos em
amortecedores, todos relacionados a questões de segurança dos passageiros.
O aspecto inaceitável é que a decisão completamente fora
dos trilhos só se consumou porque alguém decidiu se contentar com testes de faz
de conta, que só ajudaram a garantir os interesses dos fornecedores. A falta de
cuidados mínimos sob os pontos de vista administrativo e técnico ameaça agora o
futuro do próprio serviço. Uma das consequências é que, diante da
impossibilidade de recorrer à frota nova, os antigos trens vêm sendo
usados além do recomendável. Não há sequer tempo para que possam seguir
recomendações mínimas de manutenção.
A milionária compra de uma frota sem condições de uso
pela Trensurb é um trágico exemplo do que as ingerências políticas nas
indicações de quadros para as estatais podem provocar. Por isso, tem que ser
investigada com rigor.
O Ministério Público Federal (MPF) já entrou em ação para
apurar as responsabilidades e tentar o ressarcimento desse investimento em
total desacordo até mesmo com parâmetros mínimos do bom senso. Até que tudo
seja esclarecido, porém, quem vai continuar sofrendo são os usuários, para os
quais a empresa continua devendo explicações.
Alem do que foi descrito neste editorial, existe um dado que é preocupante. A Trensurb não precisava comprar 15 trens, no máximo 5 seriam suficientes. A demanda atual é de apenas 174 mil passageiros/dia. As justificativas e estimativas da direção, na época, não lograram existo e foram baseados em dados não científicos. Causando um prejuízo muito grande aos cofres públicos.
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