Afirmei veementemente: “Qualquer psiquiatra que me
ouvisse por cinco minutos, teria muitos motivos para me internar.”
Fui sincero.
Pessoas mais próximas entendem que não sou adepto a
protocolos, não uso filtros e gostaria de não precisar usar “máscaras” para me
adaptar a um mundo que não aceita o diferente.
E, por esse motivo, descrevo-me nesse texto. Despindo-me
de qualquer preconceito.
Sou cheio de manias, obsessões, agitações,
hiperatividade, ansiedades, insônias e muitos momentos depressivos.
Por que resolvi tirar as “máscaras” que uma vida em
sociedade impõe? Porque não me constranjo em demonstrar minhas fragilidades,
minha intolerância por “salas de jantar” por cafés da manhã servidos por
príncipes.
O que me constrange é acreditar que uns podem ter tudo e
outros, nada, e mesmo assim a sociedade entender que está “ok”.
Óbvio que até pela minha sobrevivência eu faço terapia
como prioridade.
Vamos tirar as máscaras e dar a real?
No meu ambiente de trabalho, por exemplo. A política. Há
os que se utilizam de todos os tipos de drogas, lícitas e ilícitas, para manter
a “figura pública”, e há os vaidosos, esses sim, os piores viciados que
existem.
Muitos escondidos nesses vícios, e que poderiam ser
tratados em terapia.
Não há como negar que a vaidade é inerente ao ser humano.
É preciso se observar constantemente.
A vaidade somatizada a ambientes de poder é uma bomba
relógio para o ser humano.
O poder te deixa refém da vaidade, e se alimenta com a
exibição, o prestígio, o “vip”.
Os aplicativos mais utilizados, hoje, são os que
propiciam a exibição: Facebook, Instagram, “youtubers”, pois é necessário ser
celebridade para ser sinônimo de sucesso. Ser reconhecido.
E é nesse caminho que a política anda. Política + poder +
exibição. Prato cheio para alimentar a vaidade.
Sou questionado diariamente: “Rodrigo, tu és político, é
necessário ter rede social.”
Pra quê? Se o que realmente quero é uma humanidade menos
narcisista, mais solidária, e que eleja pessoas que pensem no coletivo e não
pelas postagens mascaradas que lemos diariamente.
O que se caracteriza pela personalidade narcisista?
"Transtorno de personalidade narcisista é
caracterizado por um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração
e falta de empatia, que começa na idade adulta e está presente em uma variedade
de contextos. Indivíduos narcisistas são caracterizados por fantasias irreais
de sucesso e senso de serem únicos, hipersensibilidade à avaliação de outros,
sentimentos de autoridade e esperam tratamento especial. Frequentemente
apresentam sentimento de superioridade, exagero de suas capacidades e talentos,
necessidade de atenção, arrogância e comportamentos autorreferentes. Exibem
exagerada centralização em si mesmos, geralmente acompanhada de adaptação
superficialmente eficaz, adaptam-se às exigências morais do ambiente como preço
a pagar pela admiração; porém, tem sérias distorções em suas relações internas
com outras pessoas", segundo o psiquiatra Lucas Romano.
Seguramente muitos, principalmente em ambientes que
propiciam visibilidade ou poder - em todas áreas - se encaixam na personalidade
narcisista.
E por isso me identifiquei com o Coringa, personagem
impactante e que me fez rever a minha história.
Muito pelo que é relatado e roteirizado pelo diretor Todd
Philips de forma genial: escancara (sem filtro) uma sociedade que está doente.
E, também, porque acho que todos nós temos “ bagagens no
porão” como o falido comediante Arthur Fleck, e que necessitam de máscaras para
estarem escondidas. Não darão “likes”.
Dentro de uma sociedade que “bate” diariamente nos
pobres, cujo sorriso é mais de desespero do que de felicidade, sinto-me no
papel do coringa, que expõe sua personalidade sem filtro ou constrangimento.
Como o Coringa, sinto que “as pessoas só gritam e berram
umas com as outras, ninguém nunca é educado! Ninguém pensa como é estar no
lugar do outro cara".
Contudo, no final do filme, o caos se inverte, ao invés
da vaidade extrema e a riqueza ser sinônimo de “vencer na vida”, o grande
Coringa, com todas as suas fragilidades expostas, é o grande representante dos
sentimentos mais profundos de uma humanidade que almeja outros exemplos para
sobrevier.
Rodrigo Maroni - Deputado Estadual
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