Dei-me ao trabalho de assistir integralmente o voto proferido ontem pelo ministro Alexandre de Moraes sobre a liberação de cultos e missas durante a pandemia.
Eu não acreditava muito em psicografia, ainda que esta minha descrença já tivesse sido abalada pelo texto psicografado pelo Roberto Marinho à Miriam Leitão quando Bolsonaro citou a defesa feita pelo criador da Rede Globo do regime militar de 64, mas agora posso afirmar que minha descrença desapareceu por completo. O voto do Alexandre de Moraes é uma verdadeira obra psicografada pelo saudoso gênio brasileiro Stanislaw Ponte Preta.
Se vivo estivesse, tenho certeza de que Sérgio Porto incluiria na letra de sua música cujo título atualizado dentro da ideologia do politicamente correto seria “Samba do afrodescendente portador de alguma deficiência mental leve”, o discurso do ilustre ministro.
Em seu voto psicografado, Alexandre de Moraes faz uma série de referências históricas que, no seu entendimento justificariam o lockdown dos templos religiosos, começando pelo Papa Clemente VI. Segundo o ministro, “o Papa Clemente autorizou o fechamento de igrejas e até transformou-as em hospitais para evitar aglomerações”. De onde o ministro tirou este argumento para evitar aglomerações transformando as igrejas em hospitais só pode ter sido na mente de Stanislaw Ponte Preta.
A lembrança deste Papa vem bem a propósito porque foi ele que canonizou Ivo de Tréguier, patrono de advogados, procuradores, juízes, juristas e notários, assim como de suas vítimas. Sim, ele também é padroeiro dos órfãos e abandonados.
Clemente sobreviveu à epidemia de peste negra, fugindo para o campo perto de Avignon onde era a sede da Igreja Católica na época.
Não consta que Clemente VI tenha decretado lockdown, tendo inclusive instituído uma Missa Especial para que os fiéis rezassem pela cessação da epidemia. A história diz que ele, realmente, se dedicou muito aos doentes, apesar de ser famoso por ter sido um grande apreciador da “boa vida”.
Mas Stanislaw Ponte Preta ataca com toda a ferocidade quando fala de Martinho Lutero.
Sigo com o ministro:
“Lutero, um dos grandes junto com Calvino reformistas, na pandemia entre 1350 e 1380, até um pouco antes na peste negra, tem uma passagem importantíssima defendendo o isolamento de pessoas contaminadas pela peste e defendendo o isolamento dos cultos justamente para evitar a propagação da peste”. O sacana do Stanislaw Ponte Preta não avisou o ministro que Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, ou seja, um século mais tarde. Ficou parecido com o casamento da princesa Leopoldina com Tiradentes, não acham?
Continua Stanislaw Ponte Preta:
“O Papa do século 12, Alexandre VII decretou o cancelamento de todas as procissões e suspendeu todos as cerimônias religiosas além de pedir aos fiéis que rezassem pelos doente e mortos na privacidade de suas casas”. Mais uma sacanagem do Lalau porque não avisou o ministro que o Papa Alexandre VII nasceu em 1599.
E por fim, São Carlos Borromeu. Vou novamente de ministro:
“Em 1576 São Carlos Borromeu em Milão explodindo de mortes pela peste decreta quarentena geral para a população de Milão”.
Lalau, mais uma vez, enganou o ministro. O que ocorreu foi justamente o contrário.
Carlos Borromeu atribuiu a epidemia ao fechamento das igrejas pelos magistrados que governavam a cidade de Milão. Segue a história ocultada pelo Lalau:
“Enquanto a peste se espalhava, o arcebispo (Carlos Borromeu) ordenou que três procissões gerais se realizassem em Milão, nos dias 3, 5 e 6 de outubro, «para aplacar a ira de Deus». No primeiro dia, o santo, embora não se estivesse em tempo de Quaresma, impôs as cinzas sobre as cabeças dos milhares de pessoas reunidas, exortando à penitência. Terminada a cerimónia, a procissão dirigiu-se para a Basílica de Santo Ambrósio. Ele próprio se colocou à frente do povo, vestido com a capa magna, com um capuz e os pés descalços, a corda de penitente em volta do pescoço e uma grande cruz na mão. Na igreja, pregou sobre o primeiro lamento do profeta Jeremias: Quomodo sedet sola civitas plena populo( como está solitária a cidade tão povoada), afirmando que os pecados do povo tinham provocado a justa indignação de Deus. A segunda procissão presidida pelo cardeal dirigiu-se para a Basílica de São Lourenço Maior”.
Apenas como ilustração final, sendo sobrinho do Papa Pio V, Carlos Borromeu foi nomeado Cardeal antes de ter sido ordenado padre o que lembra vários membros da nossa suprema corte que foram nomeados Ministros (Supremos Juízes) sem nunca terem sido juízes, sendo que um deles até mesmo foi duas vezes reprovado no exame para a magistratura. E, diferentemente, não temos sobrinhos, e sim, primos nomeados.
Achei muito bem fundamentado o voto do Alexandre de Moraes. Afinal, quem sou eu para discutir com uma entidade superior como Stanislaw Ponte Preta?
Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial.
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