A pedra no sapato do governo

A entrevista a seguir é da revista Veja. O editor replica na íntegra, dada sua relevância.

Parlamentar de primeiro mandato e o mais votado do Rio Grande do Sul, o tenente-coronel do Exército, Luciano Lorenzini Zucco, mal chegou ao Congresso e já virou alvo do governo federal, dos partidos de esquerda, sindicatos e de movimentos sociais. O motivo? A criação de uma CPI para investigar o MST e sua nomeação para a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito. Foi o sinal verde para uma série de ataques e denúncias contra o deputado. Por outro lado, tem conquistado o respeito dos demais colegas de parlamento. Mesmo sendo um estreante em Brasília, assumiu o comando de uma das CPIs mais sensíveis ao Palácio do Planalto. 


1 – O senhor possui fazenda?

Eu sou oriundo das Forças Armadas, ingressei na política em 2018. Tenho o maior respeito e admiração pelo setor produtivo, mas não tenho relação direta com o agronegócio. Minha aproximação com o setor vem desde março, quando apresentei a proposta para investigar a escalada de invasões de terras no Brasil. 


2 - Tem parentes agricultores?

Eu tenho um tio que é pequeno agricultor no interior do Rio Grande do Sul .


3 – O senhor é a favor da reforma agrária?

Qualquer pessoa de bom senso é a favor da reforma agrária, desde que feita dentro da lei. A terra precisa ser oferecida para quem tem vocação e o Estado deve oferecer as condições para que os assentados tenham infraestrutura e assistência técnica no campo. 


4 - É a favor, como diz o MST, da desapropriação de “latifúndios improdutivos”?

Quem define se a terra é produtiva não é o Incra. Não cabe ao MST ou qualquer outra sigla essa decisão. Invasão de terra é crime e a área invadida não pode servir para fins de reforma agrária. Então fica o questionamento: qual a finalidade dessas invasões?


5 - O que acha de parlamentares do PT que dizem que a CPI do MST tem o propósito de “criminalizar” o movimento?

O movimento se criminaliza por si próprio ao cometer o chamado esbulho possessório. 


6 - O que achou da ação dos manifestantes que invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo?

Eu estava passando o final de semana com minha família no interior de Santa Catarina. Quando assisti àquelas imagens lamentáveis fiz questão de me posicionar imediatamente nas redes sociais, criticando duramente o vandalismo e a depredação de patrimônio. Sempre fui e continuarei sendo a favor das manifestações pacíficas. 


7- O que achou da decisão do ministro Alexandre de Moraes de investigar o senhor por atos antidemocráticos?

O ministro mandou apurar uma denúncia que chegou até ele. É isso. Essa é uma matéria vencida, que foi requentada por aqueles que querem tentar me constranger na presidência da CPI. Não vão conseguir. A imprensa repercutiu isso, mas não tem nada ali. Refere-se a uma postagem nas minhas redes sociais, que não tem sequer uma palavra minha, nem dita nem escrita. Tentar usar o Judiciário para me intimidar é parte do jogo sujo da política. É um contorcionismo tentar usar algo tão rasteiro para me intimidar. 


8 - O governo federal tem motivos para ficar preocupado com o andamento dos trabalhos da CPI do MST?

Quem não deve não teme. Quem deve ficar preocupado é quem patrocina essas invasões. Quem apoia ou se omite também deve estar com a pulga atrás da orelha.  A CPI vai a fundo nessa investigação de forma responsável. Não podemos ser coniventes a escalada de invasões. Esse era um problema superado no Brasil. Por qual motivo voltou com força justamente num governo onde MST faz parte, com nomeações de lideranças em cargos estratégicos do próprio Incra.

9 – O que podemos esperar da CPI?

Em primeiro lugar equilíbrio na condução dos trabalhos e determinação na apuração dos fatos. Esperamos que ela possa dar uma contribuição efetiva para a sociedade, devolvendo a paz aos produtores rurais. Vamos apresentar soluções práticas para inibir esse tipo de crime e dar suporte para que a Reforma Agrária possa avançar e alcançar as famílias que aguardam na fila por um lote. Produtor rural é um só, seja ele pequeno, médio ou grande. Todos fazem parte desse setor que é a locomotiva da economia nacional. Não é a toa que o PIB da agropecuária cresceu 21,6% no primeiro trimestre deste ano, a maior alta desde 1996. Não é inteligente nem razoável chamar o produtor rural de fascista, nem ser permissivo com a escalada das invasões.

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