Estudo do Ceper/Fundace mostra que os efeitos externos
são responsáveis por, no máximo, 36,4% do atual cenário de crise pelo qual o
Brasil atravessa; erros na economia e corrupção são os grandes vilões
A crise externa não é a principal causadora da retração
do crescimento da economia brasileira. Dados do Boletim Conjuntura Econômica
Especial do Ceper/Fundace mostram que os efeitos externos são responsáveis por,
no máximo, 36,4% do atual cenário de crise pelo qual o País atravessa. O
restante é decorrente de causas internas, com ênfase nos erros de medida
econômica cometidos e na corrupção.
Elaborado pelo pesquisador Luciano Nakabashi, o Boletim
Conjuntura Econômica Especial faz uma análise da economia brasileira desde o
início dos anos 1990 até 2018, baseado em previsões e dados do Banco Mundial.
O levantamento compara o período de melhor desempenho
recente do Brasil e da América Latina – que vai de 2004 a 2011 – com o período
posterior, de 2012 a 2018. Os dados apontam que de um período para o outro, a
retração do crescimento chega a 95,6%, passando de 4,39% para 0,19% do primeiro
para o segundo período, enquanto os números da média mundial são de 2,76% e
2,66%, respectivamente.
Ao excluir o Brasil do restante da América Latina, a
pesquisa mostra que a desaceleração dos países caiu de 3,92% para 2,55%, ou
seja, uma retração de 34,8%. Isso foi feito para isolar os efeitos da crise
externa no Brasil, ou seja, foi feita uma suposição que a desaceleração do
restante dos países da América Latina foi decorrente apenas dos efeitos da
crise internacional. “Somente com os efeitos externos, o Brasil ainda estaria
crescendo a uma taxa média de 2,86%. Ou seja, os efeitos são responsáveis por,
no máximo, 36,4% da retração do crescimento da economia brasileira”, explica
Nakabashi.
Isso prova, segundo o pesquisador, que as causas
internas, como os erros de medida econômica e a corrupção, seriam os grandes
responsáveis por, pelo menos, 64% da retração. Como mostra o Boletim, os erros
de medida econômica criaram déficits elevados nas contas públicas, com efeitos
na dívida pública, o que gera incertezas por parte dos investidores. Os efeitos
inflacionários dessas medidas têm pressionado os juros da economia, piorando o
déficit e o montante de investimentos.
Outra causa interna apontada pelo Boletim, a corrupção,
também tem uma parcela de contribuição no desempenho negativo da economia
brasileira. “A corrupção possui efeitos nocivos, pois corruptos e corruptores
realizam esforços para enfraquecer as instituições que fiscalizam as atividades
econômicas e sociais de forma a ganharem mais com atividades ilegais com menos
risco”, descreve Nakabashi em seu estudo.
O pesquisador afirma também que o desvio de recursos
reduz os investimentos. “Essa redução impacta diretamente na infraestrutura, um
dos principais gargalos para um bom desempenho do País no longo prazo. É
preciso focar em reformas institucionais para coibir atos de corrupção e para
dar sustentabilidade na trajetória da dívida pública para que o País possa
voltar a crescer de forma robusta e consistente”, diz Nakabashi.
O Boletim Conjuntura Econômica Especial está disponível
para acesso no site da
Fundace: www.fundace.org.br/_up_ceper_boletim/ceper_201603_00198.pdf
Ceper – O Centro de Pesquisa em Economia Regional foi
criado em 2012 e tem como objetivo desenvolver análises regionais sobre o
desempenho econômico e administrativo regional do País. Sua criação reúne a
experiência de diversos pesquisadores da FEA-RP da Universidade de São Paulo em
pesquisas relacionadas ao Desenvolvimento Econômico e Social em nível regional,
a análise de Conjuntura Econômica, Financeira e Administrativa de municípios e
Gestão de Organizações municipais, entre outros. A iniciativa de criação do
Centro foi dos pesquisadores Rudinei Toneto Junior, Sérgio Sakurai, Luciano
Nakabashi e André Lucirton Costa, todos da FEA-RP/USP. Os Boletins Ceper têm o
apoio do Banco Ribeirão Preto, Imobiliária Fortes Guimarães, São Francisco
Clínicas e Construtora e Incorporadora Stéfani Nogueira.
Fundace – A Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento
da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace) é uma instituição privada
sem fins lucrativos criada em 1995 para facilitar o processo de integração
entre a FEA-RP e a comunidade. Oferece cursos de pós-graduação (MBA) e extensão
em diversas áreas. Também realiza projetos de pesquisa in company além do
levantamento de indicadores econômicos e sociais nacionais regionais.
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