Editorial do Estadão: O fim do torpor
Com exceção dos que ou perderam a capacidade de pensar ou
tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram ao PT e a Lula o mais
profundo desprezo e indignação
Por: Augusto Nunes 31/08/2016 às 14:32
O impeachment da presidente Dilma Rousseff será visto
como o ponto final de um período iniciado com a chegada ao poder de Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2003, em que a consciência crítica da Nação ficou
anestesiada. A partir de agora, será preciso entender como foi possível que
tantos tenham se deixado enganar por um político que jamais se preocupou senão
consigo mesmo, com sua imagem e com seu projeto de poder; por um demagogo que
explorou de forma inescrupulosa a imensa pobreza nacional para se colocar
moralmente acima das instituições republicanas; por um líder cuja aversão à
democracia implodiu seu próprio partido, transformando-o em sinônimo de
corrupção e de inépcia. De alguém, enfim, cuja arrogância chegou a ponto de
humilhar os brasileiros honestos, elegendo o que ele mesmo chamava de “postes”
– nulidades políticas e administrativas que ele alçava aos mais altos cargos
eletivos apenas para demonstrar o tamanho, e a estupidez, de seu carisma.
Muito antes de Dilma ser apeada da Presidência já estava
claro o mal que o lulopetismo causou ao País. Com exceção dos que ou perderam a
capacidade de pensar ou tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram
ao PT e a Lula o mais profundo desprezo e indignação. Mas o fato é que a
maioria dos brasileiros passou uma década a acreditar nas lorotas que o ex-metalúrgico
contou para os eleitores daqui. Fomos acompanhados por incautos no exterior.
Raros foram os que se deram conta de seus planos para
sequestrar a democracia e desmoralizar o debate político, bem ao estilo do
gangsterismo sindical que ele tão bem representa. Lula construiu
meticulosamente a fraude segundo a qual seu partido tinha vindo à luz para
moralizar os costumes políticos e liderar uma revolução social contra a miséria
no País.
Quando o ex-retirante nordestino chegou ao poder,
criou-se uma atmosfera de otimismo no País. Lá estava um autêntico
representante da classe trabalhadora, um político capaz de falar e entender a
linguagem popular e, portanto, de interpretar as verdadeiras aspirações da
gente simples. Lula alimentava a fábula de que era a encarnação do próprio
povo, e sua vontade seria a vontade das massas.
O mundo estendeu um tapete vermelho para Lula. Era o
homem que garantia ter encontrado a fórmula mágica para acabar com a fome no
Brasil e, por que não?, no mundo: bastava, como ele mesmo dizia, ter “vontade
política”. Simples assim. Nem o fracasso de seu programa Fome Zero nem as
óbvias limitações do Bolsa Família arranharam o mito. Em cada viagem ao
exterior, o chefão petista foi recebido como grande líder do mundo emergente,
mesmo que seus grandiosos projetos fossem apenas expressão de megalomania,
mesmo que os sintomas da corrupção endêmica de seu governo já estivessem
suficientemente claros, mesmo diante da retórica debochada que menosprezava
qualquer manifestação de oposição. Embalados pela onda de simpatia
internacional, seus acólitos chegaram a lançar seu nome para o Nobel da Paz e
para a Secretaria-Geral da ONU.
Nunca antes na história deste país um charlatão foi tão
longe. Quando tinha influência real e podia liderar a tão desejada mudança de
paradigma na política e na administração pública, preferiu os truques
populistas. Enquanto isso, seus comparsas tentavam reduzir o Congresso a um
mero puxadinho do gabinete presidencial, por meio da cooptação de
parlamentares, convidados a participar do assalto aos cofres de estatais. A
intenção era óbvia: deixar o caminho livre para a perpetuação do PT no poder.
O processo de destruição da democracia foi interrompido
por um erro de Lula: julgando-se um kingmaker, escolheu a desconhecida Dilma Rousseff
para suceder-lhe na Presidência e esquentar o lugar para sua volta triunfal
quatro anos depois. Pois Dilma não apenas contrariou seu criador, ao insistir
em concorrer à reeleição, como o enterrou de vez, ao provar-se a maior
incompetente que já passou pelo Palácio do Planalto.
Assim, embora a história já tenha reservado a Dilma um
lugar de destaque por ser a responsável pela mais profunda crise econômica que
este país já enfrentou, será justo lembrar dela no futuro porque, com seu
fracasso retumbante, ajudou a desmascarar Lula e o PT. Eis seu grande legado,
pelo qual todo brasileiro de bem será eternamente grato.
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