TITO GUARNIERE
O PT É MAIS IGUAL DO QUE OS OUTROS
O patriarca da empreiteira Odebrecht, Emilio Odebrecht,
em depoimento ao TSE, se referiu ao ex-ministro de Lula e Dilma, Antônio
Palocci, como o “nosso Palocci”. Nada mais revelador. A expressão diz muito de
como a Odebrecht via o governo e os seus interlocutores. “Nosso”, no caso,
designava posse e propriedade.
As delações da Odebrecht demoliram a única narrativa que
restou ao PT, de que os partidos são todos iguais na prática da corrupção. Ao
dizer que são iguais, há uma certa modéstia do PT – e a modéstia nunca foi uma
virtude petista. O PT é mais igual do que os outros. No quesito corrupção o
partido é hors-concours, imbatível nos métodos, no tempo de serviço, no
envolvimento direto dos seus maiores líderes, e sobretudo na escala industrial,
no ritmo alucinante das bandalheiras.
Nos outros partidos os atos de corrupção são crimes de
CPF, de pessoas físicas, cometidos na esfera individual. No PT os recursos da
corrupção eram movimentados por dentro da estrutura partidária. A corrupção é
da cultura partidária e da alçada da diretoria. É corrupção de pessoa jurídica,
com registro e CNPJ. As delações da Odebrecht comprometem todo o alto
comissariado do PT, como ex-presidentes (Lula e Dilma), ex-ministros da Fazenda
(Palocci e Mantega).
A prova cabal de que no PT a corrupção é, por assim
dizer, da casa, está no fato de que o cargo de tesoureiro do partido é de alto
risco. Vaccari Neto está preso e condenado a mais de 30 anos. Delúbio Soares já
cumpriu pena. Paulo Ferreira está solto porque pagou fiança. Você já ouviu
falar de tesoureiro(s) de outro partido?
Marcelo Odebrecht, o principal executivo da companhia,
preso há mais de um ano e meio, abre o livro e não deixa pedra sobre pedra.
Segundo ele, de 2008 a 2014, a Odebrecht repassou ao PT a bagatela de R$ 300 milhões
de reais, sendo que R$ 130 milhões pelas mãos de Palocci e depois mais R$ 170
milhões através de Guido Mantega.
As relações promíscuas entre a Odebrecht e o PT mostraram
outra face escabrosa do partido. Nas eleições de 2014 o PT literalmente comprou
as legendas de PP, PRB, PROS, PDT e PCdoB para apoiar Dilma. O valor da
transação foi da ordem dos R$ 27 milhões de reais, só da Odebrecht. Com o apoio
desses partidos – que só por isto deveriam ter o registro cassado - Dilma
agregou mais 30% de tempo de rádio e televisão. Na maracutaia o PT agiu como
polo ativo e passivo de corrupção, foi corrompido (recebendo dinheiro sujo) e
corrompeu (comprando partidos aliados).
Na lambança geral, havia até uma conta-corrente de Lula
com a empreiteira, que movimentou R$ 13 milhões de reais, e dos quais ninguém
até agora sabe o destino.
As delações da Odebrecht derrubaram o mito da honestidade
de Dilma Rousseff. Sob certo aspecto, a barra dela é mais pesada do que a de
Lula. Ela tinha conhecimento pleno e ao nível de detalhe, dos rolos e
ilegalidades das campanhas de 2010 e 2014. Dou de barato que ela não tenha
recebido um só centavo em conta pessoal. Mas ela não seria presidente da
República sem o mar de dinheiro (e de lama) que irrigou as suas campanhas.
titoguarniere@terra.com.br
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