Ciro Gomes mira em Moro e acerta a própria testa
Se fosse um dos alvos da Lava Jato, o colecionador de
bravatas receberia a visita da PF empunhando não um tresoitão, mas a bandeja
com o cafezinho
Por Augusto Nunes
Ciro Gomes nem precisa de adversários em campanhas
eleitorais: ele sabe como ninguém perder sozinho. Na primeira disputa
presidencial em que se meteu, a candidatura começou a derreter quando chamou de
“burro” um eleitor com quem falava por telefone durante um programa
radiofônico. O segundo naufrágio do gabola que primeiro fala e só depois pensa
(se é que pensa) tornou-se inevitável com a definição do papel que a atriz
Patrícia Pillar, com quem estava casado na época, desempenharia na campanha do
marido: dormir com o candidato, resumiu.
O vídeo acima confirma que, quando se trata de gente,
graves defeitos de fabricação não têm conserto. “Hoje esse… esse Moro resolveu
prendê um… um bloguero?”, desandou no meio da entrevista o pistoleiro que faz
mira só depois do disparo. “Ele que mande me prendê, que eu recebo a turma dele
na bala”. Endereçado ao juiz que simboliza a Operação Lava Jato, o tiro
ricocheteou na língua portuguesa antes de atingir, de novo, a testa do eterno
candidato sem chances à Presidência da República.
Se fosse mais gentil com o idioma, Ciro receberia à bala,
nunca “na bala”, os agentes da Polícia Federal que formam o que chama de turma
do Moro. Se respeitasse a inteligência alheia, não diria que Sérgio Moro
“resolveu prendê um bloguero”; apenas determinou que um blogueiro objeto de
investigações prestasse depoimento. Se passasse menos tempo na cidade onde foi
criado, governada pela família que se confunde com um bando de coronéis, teria
descoberto que o país mudou. O Brasil não é uma imensa Sobral. E jamais será.
Já não existem figurões condenados à perpétua impunidade.
A lei passou a valer para todos, aí incluídas todas as ramificações da tribo
dos cirosgomes. O ex-governador do Ceará não acordou com batidas na porta às
seis da manhã por uma razão singela: não existem (ainda) motivos para isso.
Caso esteja enredado em alguma das patifarias atravessadas no caminho da
operação, a usina ambulante de bravatas não tardará a receber a visita dos
policiais. Ciro será aconselhado pela família a receber os visitantes
empunhando não um tresoitão, mas uma bandeja com o bule e xícaras de café.
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