A Nova República vem aí! Será?
Porque a Justiça não cedeu à inércia, aliada da
impunidade e, por tabela, cúmplice da corrupção, o Brasil deu ontem um passo
importante na direção do que Tancredo Neves pregou para se eleger presidente em
1985, mas não viveu para ver: o possível surgimento de uma Nova República.
Deu-se esse nome, erradamente, à fase de transição entre
a ditadura de 64 que durou 21 anos e a consolidação da democracia restaurada
por aqui. Mas que democracia foi essa que se deixou corromper pelos males de um
presidencialismo mercantil de cooptação à falta de outros meio para se
sustentar?
Antes, o presidente governava com base no apoio de
partidos ideológicos, à esquerda ou à direita. Cada um deles, bem ou mal,
defendia seu projeto de país. Havia distribuição de cargos, natural que
houvesse para a formação de maioria no Congresso. Mas não com a intenção
deliberada de roubar e de deixar que roubassem.
O roubo sempre existiu e sempre existirá. Mas com a multiplicação
desenfreada dos partidos, dos sindicatos e de outras entidades a eles ligadas,
o roubo inflacionou o preço dos apoios, os custos das campanhas e degradou os
valores e princípios que caracterizam – ou que deveriam caracterizar – o regime
democrático.
A democracia manda que as eleições sejam disputadas em
igualdade de condições pelos candidatos. O Caixa 2 favorece um lado em
detrimento do outro menos aquinhoado. A propina pura e simples também. Mais
ainda quando ela deriva da compra de medidas governamentais e de contratos
superfaturados.
Só para ficarmos em um único exemplo: não foi isso o que
aconteceu na última eleição presidencial? Em parte por arrogância, em parte do
excesso de realismo, o empresário Marcelo Odebrecht disse em depoimento à Justiça
que foi ele que inventou a candidatura da ex-presidente Dilma à reeleição. Por
que?
Ora, porque foi a construtora que carrega seu sobrenome
que tornou a reeleição de Dilma factível mediante a doação de milhões de reais
omitidos à Justiça, e o pagamento no exterior de serviços prestados à campanha.
Quando isso acontece, subverte-se a livre manifestação do desejo dos eleitores.
É crime de lesa democracia.
Se em casa falta luz, a primeira coisa que fazemos é
conferir se o disjuntor caiu. Disjunção! Os representantes do povo, e as
instituições que eles integram, desligaram-se dos seus representados. A
democracia, por mais formal que seja, deu à luz entre nós a uma sociedade mais
exigente e a uma imprensa mais atenta.
O resultado é o que vemos. Que seja só o começo. Amém.”
(Ricardo Noblat)
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