Rejeição implacável
O veredito nada tem de judicial, mas Michel Temer (PMDB)
foi condenado de modo implacável pela opinião pública no caso JBS.
Em pesquisa Datafolha, 83% dos brasileiros consideram, a
partir da conversa gravada com o empresário Joesley Batista, que o peemedebista
teve participação direta em esquemas de corrupção.
Para 76%, Temer deveria renunciar ao cargo. Míseros 7%
aprovam sua administração, o menor percentual obtido por um presidente desde
1989, quando José Sarney governava sob uma hiperinflação.
Agudiza-se, dessa maneira, o descompasso entre as preferências
da população e a conduta do sistema político, em sua maioria alinhado ao
Palácio do Planalto.
Para além da impopularidade de Temer, o divórcio entre
representantes e representados explica-se ainda por três anos de ruína
econômica, além da exposição cotidiana de escândalos e demonstrações de cinismo
por parte dos principais partidos do país.
É compreensível, portanto, a ampla rejeição à impunidade,
que não se limita a governantes e parlamentares. Para 64% dos entrevistados
pelo Datafolha, a Procuradoria-Geral da República agiu mal em seu generoso
acordo de delação premiada com Joesley Batista; 81% defendem a prisão do
empresário, corruptor confesso.
O desalento reflete-se na imagem que se tem do país. Na
pesquisa, 47% dizem sentir mais vergonha do que orgulho de serem brasileiros
(50% afirmam o oposto), maior taxa desde que a questão começou a ser
apresentada, em 2000.
O presidente pode sobreviver à denúncia de corrupção
passiva a ser apresentada, como se espera, pelo Ministério Público –afinal, ainda
controla votos suficientes no Congresso para barrar processos que o afastariam
do cargo.
O desacordo da aliança governista a respeito de sua
sucessão contribui para a sustentação precária de seu governo, assim como o
refluxo das manifestações populares.
Existem ainda temores de que uma nova troca de comando no
Planalto dificultaria a recuperação da economia, cujos primeiros e tímidos
sinais se fazem notar.
É incontestável, entretanto, que a maioria acachapante
deseja outro governo –e é difícil imaginar que a permanência prolongada de
taxas de impopularidade tão elevadas se dê sem consequências.
Fernando Collor (então PRN, hoje PTC) e Dilma Rousseff
(PT), que amargaram índices similares de rejeição, acabaram alvos de processos
de impeachment.
No final calamitoso do governo Sarney, a degradação
econômica e o descrédito político dizimaram as lideranças tradicionais no
pleito de 1989, abrindo caminho para legendas como PT e PSDB.
Hoje, a uma distância considerável das eleições gerais de
2018, ainda não se vislumbram com clareza as opções preferenciais de renovação
da classe dirigente nacional.
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