O autor é ex-presidente da UNE e representa em Brasília o governo do Maranhão.
Vamos reconstituir a cena do "crime". No sábado
de carnaval seu principal opositor sai da cadeia para o velório do neto, uma
morte prematura e traumática que comoveu o país.
As cenas de Lula caminhando de cabeça erguida e acenando
para apoiadores são de um verdadeiro gigante, que demonstra estar muito vivo no
imaginário popular.
A reação do "protofascista" Eduardo Bolsonaro –
até Mussolini teria vergonha dele – são rejeitadas de forma áspera por vários
formadores de opinião liberais.
Nos dias seguintes, durante a festa da carne, o
presidente é exaustivamente lembrado nos blocos e na avenida. "Ei
Bolsonaro, vai tomar no c...", ou "Ai, ai, ai, Bolsonaro é o c..."
viram os hits do carnaval.
No sambódromo, escolas do grupo especial denunciam os
assassinatos da ditadura militar, exaltam Marielle e consagram o bode
nordestino vermelho dando coices nos coxinhas.
A celebração "mundana" é a apoteose da
diversidade, do respeito às diferenças, da alegria da integração no paz e amor.
São estes os valores que sustentaram o resultado das últimas eleições?
Vamos relembrar o episódio do #EleNao. O movimento tomou
conta do Brasil. A esquerda vibrou e acreditou estar num momento de virada.
Quando vieram as pesquisas "ele" cresceu. Como? Disseminaram imagens
de mulheres nuas, pessoas peladas e todo tipo de exagero nas redes para
destruir o significado do movimento. Sequestraram um significante deturpado
numa manobra a favor do bolsonarismo.
As cenas escatológicas dos rapazes publicadas no Twitter
seguem a mesma lógica semiótica da guerra em curso no Brasil. Se o carnaval me
ataca, ele é o inimigo a ser desmoralizado e aniquilado. Loucura?
Quantas pessoas rejeitam o Carnaval? O que os evangélicos
pensam a respeito? Como conservadores reagiram vendo as imagens postadas pelo
presidente? Bolsonaro correu risco? Não há dúvida. Mas é preciso reconhecer que
eles jogam e apostam pra valer.
Fraturar a sociedade é um projeto. Estes movimentos,
calculados, cumprem este objetivo. Na democracia existe maioria e minoria, que
se complementam num contrato social. No fascismo, há apenas ditadores e
inimigos que devem ser aniquilados.
A disputa é entre civilização e obscurantismo. Não é uma
disputa clássica entre liberais e socialistas. O objetivo é reescrever a
história destruindo valores consagrados do humanismo. Querem quebrar a espinha
dorsal de nossa brasilidade.
A "Lava Jato" da educação será parte desta
guerra cultural, deste enfrentamento civilizacional que tentará nos transformar
no paraíso mundial dos "terraplanistas".
Em nome da democracia e da história de nosso país,
Liberais, Democratas e Socialistas deveriam sentar e conversar.
Não há ilusão quanto à convergência nas pautas
econômicas. Mas é pouco provável, dada a agressividade dos ocupantes do
Planalto, que ela seja suficiente para manter unida por muito tempo uma base
social ampla em torno do presidente.
Em tempos sombrios, falar o óbvio é necessário. Se o
projeto deles é dividir a sociedade, o nosso projeto deveria ser unir, partindo
de pautas mínimas, amplas, capazes de recolocar o país no rumo da democracia.
A bandeira democrática erguida em torno da questão
nacional é a que mais temem os fascistas. Já passou da hora dela ganhar a
centralidade que o momento exige.
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