Ah, sim, e conquistar o de um Congresso que o presidente
também precisa de vez em quando esmurrar, para continuar falando ao povão. Não
seria missão fácil para um calejado. E nessa escola Bolsonaro é calouro.
No essencial, entretanto, os pratinhos estão rodando. A
variável a medir é a estabilidade do equilíbrio. Se perturbações localizadas
tendem a desarrumar completamente a cena ou se a natureza trabalha para o
sistema sempre se reequilibrar.
Desde que a perturbação fique dentro de certos limites, o
cenário até agora é de equilíbrio estável. Em linguagem matemática, a segunda
derivada por enquanto é positiva. Ou seja, perturbações localizadas não
desestabilizam o conjunto.
Por duas razões. A primeira: não há alternativa imediata
real de poder fora do bloco de direita conservador-liberal. Ah, mas o
vice-presidente é paquerado pelos que sonham com um “bolsonarismo sem
Bolsonaro”. Essas aspas são autoexplicativas.
A segunda: no limite, toda a base social e política do
bolsonarismo trabalha para ajudar o governo no essencial: a economia. Todos
apoiam firmemente Paulo Guedes, na esperança de quebrar o ciclo de estagnação,
essa marca da década que termina.
Um exemplo é a imprensa. Os rififis com o poder são
diários, mas apenas em questões, para a opinião pública(da), acessórias. No que
conta, a reforma da previdência, o modo é de campanha. A crítica? Ao que pode
atrapalhar a aprovação.
A previdência se transformou na “Lava-Jato da
economia". É desse apoio que o governo precisa. Ele não quer ceder
totalmente ao fisiologismo da velha política. Pois 1) o povão chiaria e 2) já
distribuiu ou reservou as melhores posições para a nova.
E o mercado financeiro? Vai resmungar, os ativos vão
oscilar, mas, na última linha, se o governo entregar pelo menos uns 50% da
reforma prometida, e assim ganhar velocidade, o dinheiro vai festejar. E já tem
uma nova cenoura na frente: a reforma tributária.
Para as Forças Armadas, Bolsonaro acoplou um belo plano
de carreira na mudança “previdenciária”. Na contabilidade oficial, elas são
responsáveis por uns 15% do déficit e vão entrar com 1% do sacrifício. Melhor
que isso só dois disso, como se diz.
Resta o principal: o povão. O governo aplica aí medidas
tópicas, como o 13% do Bolsa Família, mas o jogo será decidido no crescimento e
na geração de empregos. Se ambas as curvas embicarem para cima, 2020 e 2022
serão menos íngremes. Se não...
Qual é então o principal vetor a acompanhar? Partindo da
premissa de que alguma reforma da previdência será aprovada em 2019, e alguma
reforma tributária vai andar, qual será o impacto disso, imediato e nos
próximos três anos?
O prometido boom de investimentos compensará uma maior
propensão do consumidor a poupar? Até que ponto as deficiências estruturais
(educação, infraestrutura, pouca inovação) continuação segurando o necessário
aumento de produtividade?
Por enquanto, as expectativas não são brilhantes. Mas
governo é governo. Como está demonstrado no caso do preço do diesel. Não há
caso de governo que tenha se suicidado para manter a coerência. Se a coisa não
anda, muda-se o roteiro do filme.
*
Pela enésima vez, frustram-se os teóricos da
possibilidade de um presidente popular ser tutelado. Tem gente que vive de - e
gosta de - (se) enganar.
________________________________________
Alon Feuerwerker (+55 61 9 8161-9394)
mailto:alon.feuerwerker@fsb.com.br
COMO CONDIZ O PRÓPRIO SOBRENOME DO ELEMENTO: FEUERWERKER OU BOMBEIRO.
ResponderExcluirESPERA-SE QUE ESSE BOMBEIRO NÃO UTILIZE GASOLINA NO LUGAR DE ÁGUA.