- A autora, dra. Ivete Berkenbrock é geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021 existiam no Brasil 32 milhões e 900 mil pessoas com mais de 60 anos de idade. Em 2060, a expectativa é que este número chegue a mais de 58 milhões, total superior a 25% da população brasileira. Os dados mostram a necessidade de trazermos o tema da velhice para o primeiro plano de debate e, mais especificamente, os cuidados relacionados à saúde e o combate aos diferentes tipos de preconceitos sofridos por esta parcela significativa da sociedade.
A população idosa, vale lembrar, é heterogênea. Quando se fala em idoso, é importante saber de qual pessoa idosa estamos falando. A singularidade do envelhecer é geralmente confrontada por crenças baseadas no senso comum: idoso não pode trabalhar; pessoas mais velhas têm saúde debilitada; público idoso é um ônus econômico para a comunidade. Culturalmente, há diversas práticas de preconceito reproduzidas com este público. Entre as mais comuns está a retirada da autonomia para que tomem decisões, e a infantilização.
Etarismo, idadismo ou ageísmo são três termos que se referem ao mesmo conceito: o preconceito ou a discriminação contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados a pessoas idosas e que pode ocorrer de diferentes formas, em diversos momentos e ambientes. Os efeitos do etarismo sobre a pessoa idosa são devastadores, principalmente no aspecto emocional ou psicológico, podendo levá-la a ficar deprimida e a se isolar, se afastar do convívio social. Dessa forma, ela é invisibilizada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está atenta para este cenário e promove a Década do Envelhecimento Saudável (2021/2030). Trata-se de uma série de ações globais alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para melhorar a vida dos idosos e garantir o envelhecimento sustentável e que são divididas em quatro áreas: mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento; garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde, centrados e adequados à pessoa idosa; e propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem.
Outra forma de se combater o etarismo é criar mecanismos que ajudem a ampliar o olhar para esta causa. Uma das formas cotidianas de quebrar esses paradigmas é o incentivo à convivência intergeracional, ou seja, a troca entre diferentes gerações. Tal prática pode ajudar a reduzir o sentimento de solidão das pessoas idosas e contribuir com a educação e habilidades como o pensamento crítico, resolução de problemas e conexão social.
É com foco em dar visibilidade a estas e a muitas outras questões inerentes ao envelhecimento que a SBGG realiza o XXIII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, o maior congresso brasileiro sobre saúde da população idosa. O evento será promovido de 23 a 25 de março, em São Paulo, e reunirá médicos, profissionais da saúde e de áreas correlatas, além de pesquisadores nacionais e internacionais, estudantes e demais interessados.
Entre os temas de destaque desta edição estão: síndrome pós-Covid em pessoas idosas, transtornos mentais, violência contra idosos na pandemia, calendário vacinal, conceito de “desprescrição” de medicamentos e o uso medicinal da Cannabis para idosos. Serão abordados ainda assuntos recorrentes à saúde da população idosa, como envelhecimento saudável, sexualidade, políticas públicas e formação de profissionais. Convido você a embarcar conosco nesta jornada de descobertas sobre o envelhecer.
Sobre a SBGG
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), fundada em 16 de maio de 1961, é uma associação civil sem fins lucrativos que tem como principal objetivo congregar médicos e outros profissionais de nível superior que se interessem pela Geriatria e Gerontologia, estimulando e apoiando o desenvolvimento e a divulgação do conhecimento científico na área do envelhecimento. Além disso, visa promover o aprimoramento e a capacitação permanente dos seus associados.
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