Onda azul cobre a América do Sul. A onda vermelha desaparece.
1. O costumeiro georreferenciamento do voto nos quadros
que a imprensa apresenta vai mostrando nos últimos dois anos uma progressiva
redução da mancha vermelha, que simboliza as forças políticas do centro para a
esquerda, e uma enorme expansão da mancha azul, do centro para a direita.
2. Esse processo se inicia uns anos antes, com o aumento
da rejeição dos governos da mancha vermelha. E se acentua mês a mês. Com o novo
ciclo de eleições, as altas taxas de rejeição se transformam em mudanças nos
governos. Apesar da enorme máquina peronista de Cristina Kirchner e sua
resistência à rejeição, as eleições presidenciais surpreenderam as pesquisas no
primeiro turno e mostraram a ascensão de uma frente de centro/centro-direita.
No segundo turno, a vitória de Macri se deu sem sustos. A mancha azul ocupou
quase todo o país.
3. As eleições parlamentares na Venezuela, em dezembro de
2015, apesar de todas as manipulações e prisões perpetradas pelo chavismo,
representado pelo pior populismo, o de Maduro, confirmou de forma aplastante o
que diziam as pesquisas. A mancha azul ocupou todo o país e a oposição venceu
com a maioria constitucional de pouco mais de 2/3 dos parlamentares. O quadro
político se inverteu e o governo aprovou lei delegada antes da posse do novo
parlamento e –em seguida- passou a agir de forma obstrutiva lastreado por
confirmações da Corte Suprema de lá.
4. Evo Morales, apoiado nas pesquisas que lhe davam
maioria nacional, chamou a um plebiscito para alterar a Constituição e lhe
abrir espaço para mais um mandato presidencial, o quarto, em direção a 2025. Um
e outro escândalo de corrupção foram divulgados e Evo Morales censurou os
responsáveis, lavando as suas mãos, no conhecido método lulista. E mais perto da
eleição surgiu o caso de sua ex-namorada contratada por uma empresa chinesa por
milhões. Mas o SIM e o NÃO foram convergindo e chegaram ao plebiscito
empatados. Cumprida a tendência, o resultado foi a vitória do NÃO e a rejeição
ao quarto mandato. A mancha azul ocupou quase toda a Bolívia, exceção
significativa da província de La Paz, fronteira com Peru e Chile. A onda azul
cresceu geometricamente em direção ao leste, à fronteira com o Brasil, onde a
vitória do NÃO em Santa Cruz e Pando foi acachapante.
5. Agora, em abril, vêm as eleições presidenciais no
Peru. A rejeição ao presidente Humala –militar chavista, mas acomodado na
campanha pela propaganda petista estilo 2002- atingiu recordes próximos aos
números de Dilma. O quadro das candidaturas presidenciais está pulverizado.
Lidera a filha de Fujimori. Ascendeu Julio Gusman, economista que já foi do
BID, ministro da fazenda e coordenador de gabinete. Criou um partido –Todos
pelo Peru- e ocupa o segundo lugar uns 10 pontos abaixo dos 30 pontos de Keiko
Fujimori, com um discurso genérico. Humala sequer se arriscou a ter candidato.
Independente do resultado, a mancha azul ocupará todo o país.
6. Finalmente, o Brasil, que vive um “ciclo eleitoral” de
impeachment com rejeição recorde –talvez- em toda a história política da
América do Sul. Dilma respira com a ajuda das máquinas, mas a cada visita do
noticiário fica mais difícil sobreviver. A mancha vermelha desapareceu do mapa,
e o que se pergunta apenas é: Qual será a cor da mancha que substituirá a
mancha vermelha em curto ou médio prazos: a azul de Aécio/Alckmin, a verde de
Marina, a roxa de Ciro, a amarela de Alvaro Dias, a rosa de Cristóvam
Buarque...? Um segundo turno garantido.
7. Na ausência de lideranças substantivas, o único certo
é que a mancha vermelha desparecerá nesse ciclo político. Que a
imprevisibilidade de hoje abra caminho para o progresso amanhã.
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