A economia tem duas características interessantes. A
primeira é que, diferentemente das ciências "duras", em que o
conhecimento não altera a natureza, nela ele modifica o comportamento da
sociedade. A segunda é que nela os avanços não são "novos" problemas
produzidos por respostas cada vez mais profundas, como nas ciências
"duras", mas "novas" respostas dadas aos mesmos e velhos
problemas, porque a realidade mudou.
O que explica o desenvolvimento econômico? Por que os
níveis da atividade e do emprego flutuam? Por que há inflação? A história do
pensamento econômico é a descrição de como uma realidade mutante e a evolução
das instituições levaram os economistas a encontrar "novas" respostas
aos mesmos "velhos" problemas.
A escolha do regime cambial é paradigmática a esse
respeito. Não existe um regime "ótimo", independentemente das
circunstâncias. Quando não se admite liberdade de movimento de capitais, a taxa
de câmbio é o preço relativo que iguala os valores dos fluxos de exportação e
importação. Quando ela é admitida, a taxa de câmbio é outro animal: é o preço
de um ativo financeiro manipulável pela modificação do diferencial entre a taxa
de juro real interna e externa. Pode atender às conveniências do mercado
financeiro, mas não atender às conveniências mais importantes da economia real.
A taxa de câmbio é um dos "canais" de
comunicação dos efeitos da variação do juro real da economia. São dois fatores
essenciais ao desenvolvimento porque controlam o investimento e a exportação.
Nos últimos 20 anos, usamos o câmbio para ajudar no combate à inflação.
Graças a isso destruímos amplos setores da economia
nacional, particularmente um sofisticado setor industrial, que está com 35% de
capacidade ociosa. Mais recentemente, graças à taxa de câmbio, parece dar
pálidos sinais de recuperação. Uma boa parte do nosso medíocre crescimento se
deve à murcha do setor industrial, do qual a valorização do câmbio roubou a
demanda interna e externa.
É preciso repetir. É mais do que duvidoso que, na teoria
ou na prática, o enorme diferencial de juro interno e externo com que
convivemos possa sugerir que o melhor regime para o nosso arranjo cambial seja
a livre e plena flutuação. Ao nosso Banco Central não faltam competência e
sensibilidade para nos livrar de repetir a tragédia a que fomos submetidos na
última década. Fico aliviado quando o presidente do BC, o competente Ilan
Goldfajn, declara: "não acredito que o câmbio seja uma âncora para inflação",
e completa, "não sou advogado de câmbio flutuante puro".
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