Improvisação na segurança
A sociedade gaúcha tem o direito de voltar a circular sem
medo nas ruas, e isso só ocorrerá quando houver lugar adequado para abrigar
presos
Os gaúchos, mesmo conscientes da situação falimentar do
setor público estadual, não têm como aceitar a improvisação e os riscos
impostos pelo uso de 11 viaturas da Brigada Militar e da Força Nacional para
abrigar detentos num terreno da zona norte de Porto Alegre. Além de expor
policiais militares, que deveriam estar nas ruas circulando em viaturas
excepcionalmente transformadas em celas e não fazendo custódia de presos, a
alternativa significa uma ameaça para toda a sociedade. E ainda impõe a quem
aguarda por uma vaga em presídio punição maior do que a devida, numa sucessão
de equívocos por parte justamente de quem tem o dever de zelar pelo cumprimento
da lei.
Mais segurança não depende apenas de eficiência no
policiamento ostensivo. Ainda assim, não há como combater a criminalidade
quando a alternativa para deter quem incorre em crime são cárceres sobre rodas,
improvisados em viaturas. Essa precariedade assustadora, com risco permanente
de se transformar em tragédia, coincide com um novo recorde na média de
ocupantes por vaga no Presídio Central, em Porto Alegre, que é o retrato da
falência do sistema carcerário. A sociedade gaúcha tem o direito de voltar a circular
sem medo nas ruas, e isso só ocorrerá quando houver lugar adequado para abrigar
presos.
No ritmo atual, vai levar tempo. Diante do clamor
popular, é visível a intensificação do policiamento, particularmente em áreas
mais movimentadas. Até mesmo esse fato positivo, porém, precisa ser visto com
reservas, pois os policiais não têm para onde levar quem é detido. As razões
são conhecidas, mas a população não pode se conformar com a explicação de que
tudo se deve à falta de dinheiro. Dos cinco centros de triagem prometidos há
oito meses, só um está funcionando. O Presídio de Canoas até hoje não gera
vagas. E o ônibus Trovão Azul, que chegou a ter anunciada sua desativação como
cela, segue abrigando presos.
Mais do que qualquer outra área de atuação exclusiva do
Estado, segurança pública precisa obedecer a cronogramas rígidos. É inaceitável
e mesmo assustador que, nessa área, tudo ande devagar, menos a criminalidade
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