Sob este título, "País não vai tremer se Lula for condenado’, afirma FHC", o jornal O Estado de S. Paulo de hoje publica entrevista com o ex-presidente tucano. Leia a íntegra do material:
Se essa for a decisão da 2ª instância no dia 24, o
ex-presidente tucano diz que será ruim para o Brasil, mas que petista terá de
aceitar
Como o sr. explica o fato de o Lula liderar as
pesquisas?
Pega o caso do Peru, que nós citamos. O fujimorismo é a
força predominante até hoje, e o Fujimori está na cadeia (estava até o dia 24,
quando recebeu indulto humanitário do atual presidente Pedro Pablo Kuczynski).
O próprio Perón teve um momento assim. É curioso ver que em países como os
nossos, com um nível educacional relativamente pouco desenvolvido, as pessoas
têm muitas carências. Aqueles que dão às pessoas a sensação de que atenderam às
suas carências ganham uma certa permissão para se desviar da ética. É pavoroso,
mas é assim. É populismo. É a cultura que prevalece nesses países. A nossa está
em fase de mudança. Aqui a sociedade já tem mais informação. Nos regimes
parlamentaristas têm menos chance de que isso aconteça. Tem mais filtros. A
emoção global não leva de roldão. Pode alguém irromper, mas difícil é governar
depois.
O sr. disse que o PSDB precisa fazer autocrítica. Qual
seria?
Acho que o PSDB está, à sua maneira, fazendo. Mudou a
direção e, ao mudar, escolheu pessoas com responsabilidade. Não que os outros
não tivessem. Aécio (Neves, senador por Minas Gerais e ex-presidente do PSDB)
não é um irresponsável. Fez coisas positivas para o PSDB. Mas o partido tem que
dizer que, se houve erro de algum peessedebista, problema dele. O partido não
tem que se solidarizar com o erro de seus filiados. A Lava Jato foi um marco
importante na vida brasileira, o que não quer dizer que não tenha excessos aqui
e ali. Acho um pouco exagerada essa vontade de vingança que existe hoje.
Além do caso da JBS, que envolve o Aécio, o partido ainda
enfrenta, mais recentemente, os impactos do acordo de leniência da Camargo
Corrêa e da Odebrecht, na qual ambas as empresas reconhecem cartel em obras nos
governos tucanos em São Paulo. Qual o tamanho da avaria no caso do PSDB?
Esse é o ponto. A Lava Jato demonstrou ao País, e isso
deixou todo mundo horrorizado, que aqui se montou um sistema de poder político
baseado na propina. Não é só uma questão de fulano ou beltrano roubou. É muito
mais grave do que isso. As instituições ficaram comprometidas. O PSDB não
participou desse sistema nem em São Paulo. No caso de São Paulo, se houve algum
malfeito no Rodoanel (uma das obras em investigação – teria havido cartel para
linhas de metrô também), não foi o PSDB que fez ou o governador que organizou.
Aqui não se organizou esquema. Não tem um tesoureiro do PSDB que pegou
dinheiro. Houve um cartel, mas contra o governo.
Há uma crítica recorrente que as denúncias de corrupção
em São Paulo não recebem o mesmo tratamento do que em outros Estados ou no
plano federal.
Teve processo em São Paulo. Talvez não tenha produzido o
mesmo auê, ou escândalo, talvez por isso: não conseguem envolver o núcleo político
e porque não tem a bênção do governo.
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