Sempre que a atividade econômica segue
devagar-quase-parando, aumentam as tensões na área do crédito, como se tudo
dependesse de destravá-lo e de torná-lo mais acessível a empresas e
consumidores.
O crédito é relativamente baixo no Brasil. Corresponde a
apenas 46,8% do PIB. Se compararmos com o que acontece em outros países, fica
claro como esta segue sendo outra área atrofiada no Brasil. No Chile, por
exemplo, já ultrapassou os 100% do PIB. A paradeira produtiva tem uma fieira de
causas mais importantes do que o relativamente baixo dinamismo do crédito. A
mãe de todas as causas é o rombo das contas públicas, que bloqueia muita coisa.
Basta lembrar que a maior parte da poupança nacional, que também não é lá essas
coisas, está sendo canalizada para compra de títulos do Tesouro do Brasil, ou
seja, destina-se a dar cobertura à dívida que, por sua vez, é o rombo
acumulado. Ou seja, a voracidade do Tesouro é um dos maiores obstáculos ao
crescimento do crédito no Brasil.
Mas há outro obstáculo: o alto endividamento do setor
privado. No dia 3, esta Coluna mostrou que 59,6% das famílias brasileiras
continuam endividadas. E tem também a inadimplência. Como aponta o SPC Brasil,
são 63,4 milhões de CPFs com atraso nas contas.
Não é possível esticar ainda mais essa corda sem que se
criem novas distorções. O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro
Gomes, entendeu que este é obstáculo sério ao crescimento e, portanto, ao
emprego – e nisso tem razão. E foi logo se comprometendo a que, se eleito,
tratará de deflagrar grande operação de limpeza de nomes nos cartórios, na
Serasa e nas instituições que registram a ocorrência de calotes de dívidas.
Depois, foi obrigado a advertir que não seria ele o causador de novas
atrocidades na área de crédito. Como a que aconteceria se, garantida alguma
espécie de perdão de dívidas, o endividado ou outros se aventurassem nos
financiamentos, independentemente da capacidade de honrar compromissos, certos
de que o Ciro se encarregaria depois da faxina geral.
Claro, toda dívida pode ser renegociada. Mas o que também
emperra o crédito não são os juros excessivos cobrados por aqui – embora também
façam parte do emperramento – nem o eventual baixo interesse dos bancos em
financiar a produção e o consumo.
O outro problema de fundo é o baixo nível da renda,
conjugado com o aumento do desemprego, que não só reduz o apetite por crédito
do consumidor, como, também, contém os bancos.
Os candidatos se sucedem em prometer que usarão os bancos
estatais não só para expandir o crédito, como, também, para forçar importante
redução do spread (diferença entre o que os bancos pagam e o que cobram de
juros). Isso aí é mula de mina, viciada nos mesmos caminhos. Para não ir longe,
o governo Dilma não fez outra coisa. Chamou os bancões oficiais para cumprir o
determinado. O resultado foi lastimável. Para não quebrar, a Caixa Econômica Federal
teve de receber sucessivas transfusões de sangue novo do Tesouro e o Banco do
Brasil amargou temporadas de baixíssima rentabilidade.
Ou seja, devagar com o crédito, que o santo é de barro.
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