Januário,
o taxista, que pouco fala e se fala é com poucos, parecia ter o assunto
GUARDADO por vários dias. Como sou dos poucos, ele sempre puxa CONVERSA. Foi
depois de acelerar e se meter no trânsito pesado que ele falou: "E essa
agora do senador Paulo Paim?"
Fiquei
calado, escutando o silêncio. Pausa. Esperei. Ele arrancou: "Paim sempre
apoiou o Renan Calheiros." E daí a pouco: "Em todas as vezes que o
alagoano se elegeu presidente do Senado, contou com a ajudinha do Paulo
Paim".
É
verdade. Renan Calheiros foi eleito quatro vezes para presidir o Senado. E em
todas se articulou com o PT. A primeira foi em 2005. E conseguiu reeleger-se em
2007. Aí, suspeito de praticar vários crimes, acabou renunciando para evitar a
cassação do mandato por quebra de decoro. Mas, apesar das muitas falcatruas
jamais esclarecidas, ele tentou e conseguiu eleger-se outra vez em 2013,
contando, como lembra Januário, com o apoio do PT, sendo Paim o único senador
gaúcho a votar nele. E em 2015, Renan se reelegeu, outra vez apoiado por Paim.
Só que,
na eleição de há poucos dias, Paim ficou na moita, espreitando a briga dos
outros. E só se definiu depois de ver a candidatura de seu amigo Renan
Calheiros se esfarelar. E como se posicionou?
Eis o que
deixou mesmo Januário contrafeito, tendo ele ouvido uma entrevista de Paulo
Paim à Rádio Guaíba, na qual o petista se orgulhava de ter votado desta vez no
incontestável Antonio Reguffe.
Numa
eleição polarizada, Renan Calheiros era o candidato da velha política. Dos 81
senadores, 52 queriam votação aberta. Mas com a mãozinha do STF a votação foi
secreta. Os que se levantaram contra a corrupção reagiram e desafiaram cada
senador a mostrar o voto às câmeras da TV: fulminaram a candidatura da
raposa. Só então o escapista Paim
definiu-se por votar em quem não tinha qualquer chance e não o deixaria na
incômoda situação de explicar sua associação com a velha política.
Claro,
foi um voto inútil, em vista do embate que estava sendo travado. Porém, mais
claro ainda é ter sido, ao associar ele a própria imagem à de Reguffe, um voto
muito útil para seu marketing pessoal.
É que
Antônio Reguffe (do DF) é mesmo um fenômeno. Ele é o senador que menos custa ao
contribuinte. Conforme o portal Diário do Poder, ele baixou os gastos com seu
gabinete em mais de R$ 17 milhões por ano, reduzindo as verbas e o número de
assessores de 55 para 12. Também, abriu mão de salários extras, verba
indenizatória, aposentadoria especial, plano de saúde vitalício para si e para
a família, etc.
Chegamos.
E a conversa terminou com uma pergunta retórica: "Por que Paim não segue o
exemplo do Reguffe?" Ocorre exatamente o contrário. Paulo Paim aproveita
todas as vantagens previstas em lei, legítimas ou não - que suas excelências
criaram em benefício próprio, óbvio! Definitivamente, virtude não se adquire
por osmose.
Como meu pai foi sindicalista, de velha cepa, uma vez (só) eu votei no Paim, pois - santa ingenuidade - acreditei em sua probidade e retidão. O toque de Midas ao reverso do Pain foi ele ter liderado uma CPI (fake) sobre a Previdência, só com senadores de esquerda, que 'provou' ser superavitária e que inclusive - ano passado - teve 800 bilhões de sobras! Isso é a cara de pau (ou cara de pain, tanto faz!) elevada à enésima potência.
ResponderExcluirÉ uma pena ter conseguido ser reeleito, a despeito de dizer que luta pelos aposentados e nunca ter feito nada para mudar esta situação quando o seu partido estava no poder. Que pena! Tantos candidatos melhores e reelegeram este.
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