Não parece provável que um estelionatário seja movido
apenas por ‘fazer justiça, trazendo a verdade para o povo’
A investigação sobre os hackeamentos dos celulares de
centenas de autoridades brasileiras parece estar chegando a uma solução, embora
a Polícia Federal não creia que Walter Delgatti Neto tenha entregue o material
resultante da invasão ao site Intercept Brasil apenas por “amor à causa”, pois
não tem nenhuma, aparentemente.
Tudo indica que sua linha de defesa é transformar-se da
noite para o dia em um whistleblower, um denunciante de irregularidades que
alerta a sociedade com a divulgação de documentos sigilosos.
Como Edward Snowden, que revelou documentos sobre o
sistema de vigilância global dos Estados Unidos, que incluiu a então presidente
Dilma Rousseff. Ou Chelsea Manning, que divulgou, através do Wikileaks,
documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. Assim como diversos
outros casos.
O caso Watergate é um dos mais famosos. O informante dos
repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, era conhecido
como Deep Throat. Uma fonte realmente anônima para o grande público, que
orientava as investigações jornalísticas, mas não dava documentos. Só pistas
quentes.
A revelação da sua identidade só veio quase 30 anos
depois dos fatos, que levaram à renúncia de Nixon em 1974. E por decisão do
próprio informante, Mark Felt, na época dos acontecimentos vice-diretor da CIA.
Só depois que o Deep Throat se revelou é que Woodward e Bernstein revelaram
mais detalhes dos acontecimentos.
O chamado Caso Watergate ficou célebre como jornalismo
investigativo, e virou livro e filme, dirigido por J Pakula, com Robert Redford
e Dustin Hoffman nos papéis dos repórteres. Foi no filme que surgiu a frase que
se tornou famosa: “Sigam o dinheiro”, nunca dita por Felt, mas criada pelo
diretor.
Passou a ser o símbolo das investigações de crimes,
especialmente os de corrupção política. Chegamos agora a esse ponto de seguir o
dinheiro. Ao revelar que Manuela Dávila, a ex-candidata a vice do petista
Fernando Haddad na eleição de 2018, foi a intermediária entre ele e o editor do
The Intercept Brasil Glenn Greenwald, o hacker Walter Delgatti colocou-a na
chamada sinuca de bico.
Ter intermediado a entrega do produto de um crime para um
jornalista pode implicar cumplicidade, na visão de alguns. Há, porém, quem
considere que a ex-deputada apenas agiu como uma pessoa que informa a um
jornalista sobre um fato de que teve conhecimento.
O problema muda de figura no caso de ter havido um
pagamento nessa cadeia de informantes. Não parece provável que um
estelionatário seja movido apenas por “fazer justiça, trazendo a verdade para o
povo”, conforme depoimento de Glenn Greenwald sobre seus contatos com o hacker,
que ele continua sem confirmar ser o preso na operação Spoofing.
Se o grupo atuou sob encomenda de alguém, quem contratou
é cúmplice, co-autor do crime. Se o Intercept Brasil não participou do
pagamento, ou, sabendo dele, mesmo assim publicou o material, também não pode
ser considerado cúmplice. Apenas terá a sanção moral pelo ato.
Se Manuela Dávila participou da negociação para a compra
do material, poderá ser acusada de cumplicidade. E se um partido político foi o
negociador da compra, será possível enquadra-lo criminalmente, mas duvidoso o
resultado.
Um caso assim aconteceu durante a campanha presidencial
de 2006, quando um grupo de petistas foi flagrado comprando, em dólar, um
dossiê que supostamente implicaria o candidato tucano José Serra em falcatruas
no ministério da Saúde.
Serra acabou vencendo a eleição para governador,
derrotando Aluizio Mercadante, e Lula, com o peso do mensalão recentemente
descoberto, acabou indo para o segundo turno contra Alckmin, a quem derrotou
com facilidade. Nenhum petista graúdo foi punido.
No caso presente, se Walter Delgatti insistir nessa
versão fantasiosa, a Polícia Federal poderá usar seu Telegram para confronta-lo
com as conversas que teve com Manuela Dávila e Glen Greenwald.
Não me espanta quem "bisbilhotou" mas os mandantes ou compradores...e, tudo por poder "saquear" näo querendo ofender o termo!
ResponderExcluirO caldeirão, mundo político-partidário, transforma-se em quadrilha que assalta os cofres do país!
Dr. Políbio, muda o fundo deste blog onde o Sr. Abre as reportagens, não o principal, este com o fundo da manifestação e com a bandeira do Brasil. Fica muito ruim a leitura.
ResponderExcluirMuito ruim esse texto!
ResponderExcluir